Arábia Saudita anuncia cessar-fogo no Iêmen para evitar surto da Covid-19
Em guerra há cinco anos e sob 'a pior crise humanitária' da atualidade, o Iêmen ainda não contabilizou nenhum caso do novo coronavírus
Após cinco anos de conflito bélico no Iêmen, a coalizão liderada pela Arábia Saudita — que defende o governo do presidente, Abedrabbo Mansour Hadi — anunciou nesta quarta-feira, 8, um acordo de cessar-fogo em dimensão nacional com os militantes houthis, apoiados pelo Irã. A medida é vista como a mais recente tentativa de se firmar um acordo de paz definitivo antes que a pandemia da Covid-19 possa atingir o Iêmen, um dos países mais pobres do Oriente Médio.
O cessar-fogo terá início a partir das 12h (6h em Brasília) desta quinta-feira, 9, e deverá perdurar por duas semanas, com possibilidade de prorrogação.
Essa poderá ser a primeira suspensão temporária do conflito desde o final de 2018, quando a coalizão saudita e os militantes houthis, em negociação coordenada pelas Nações Unidas, concordaram em um cessar-fogo apenas para a cidade portuária de Hodeidah.
Os houthis, porém, ainda não confirmaram se cumprirão com a medida proposta pelos sauditas nesta quarta. Mohammed Abdulsalam, porta-voz do grupo, afirmou que os militantes enviaram às Nações Unidas um plano abrangente, que inclui o fim da guerra.
“(Nossa proposta) estabelecerá as bases para um diálogo político e um período de transição”, twittou Abdulsalam nesta quarta-feira.
O porta-voz da coalizão liderada pela Arábia Saudita, o coronel saudita Turki al-Malki, explicou que a suspensão das atividades militares visa facilitar as negociações de paz no país lideradas pelo enviado especial das Nações Unidas, Martin Griffiths, que defendeu a proposta de cessar-fogo.
Todas as partes no conflito devem “utilizar esta oportunidade e cessar imediatamente todas as hostilidades com a máxima urgência, e progredir em direção à paz abrangente e sustentável”, disse Griffiths.
Covid-19
Al-Malki também afirmou que a proposta saudita foi tomada em parte para evitar um surto da Covid-19 na região. O Iêmen não reportou à Organização Mundial da Saúde (OMS) nenhum caso da doença até esta quarta-feira. Mas o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Unctad) alertou na sexta-feira 3 a comunidade internacional sobre a dimensão que teria um surto da Covid-19 no país árabe.
“O prolongado conflito dizimou o que já era um sistema de saúde muito fraco. Um surto o dominaria”, avaliou o Unctad. Mais de 100.000 pessoas já morreram desde o início da guerra civil no Iêmen, em 2015.
Um surto de Covid-19 no país será “imbatível se o conflito armado continuar” e “tornará a pior crise humanitária e de desenvolvimento no mundo ainda mais terrível”, concluiu o órgão internacional.
O Iêmen é um dos países mais pobres do Oriente Médio. Com um Produto Interno Bruto (PIB) de 26 bilhões de dólares, segundo estimativa do Banco Mundial de 2018, só não está atrás do Estado da Palestina, que é apenas parcialmente reconhecido pela comunidade internacional como um Estado soberano.
Precedente afegão
Mais de um mês antes da coalizão saudita sugerir o cessar-fogo desta quarta, o governo do Afeganistão e o grupo terrorista Talibã firmaram um acordo de paz coordenado pelos Estados Unidos no final de fevereiro, que não serve de bom precedente às negociações no Iêmen.
O Talibã anunciou no início desta semana que interromperiam a partir da terça-feira 7 as negociações com o governo afegão sobre a troca de prisioneiros, expondo a risco à integridade do acordo de paz.
Suhail Shaheen, um porta-voz do grupo terrorista, afirmou em seu Twitter que a paralização se deu pelos constantes adiamentos para a libertação de fundamentalistas presos. “Nossa equipe técnica não participará de reuniões infrutíferas a partir de terça-feira”, tuitou Shaheen.
O acordo previa, dentre outros comprometimentos, o encerramento de quase duas décadas da presença militar americana na região.
(Com Reuters)