A Ucrânia afirmou, na última quarta-feira 1, que a Rússia está se preparando para uma “ofensiva de primavera”, que deve começar no aniversário de um ano da guerra, no dia 24 de fevereiro. Após meses de inverno rigoroso, com menos avanços que o normal em um conflito já repleto de entraves, algumas cidades estão na mira de Moscou para os próximos ataques revigorados.
No sentido militar tradicional, uma ofensiva de primavera é quando os exércitos procuram gerar impulso depois de usar as más condições do inverno para se reagrupar e reabastecer. E, de fato, no fim do ano passado, o Kremlin mobilizou cerca de mais 220 mil soldados, bem como aumentou sua produção de armas e munições.
Se a Rússia lançar outra ofensiva, como espera Kiev, estas são as cidades mais visadas na Ucrânia.
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Bakhmut
A cidade no leste do país vem ganhando as manchetes por causa de inúmeras alegações sobre quem a controla de verdade.
Por enquanto, Kiev ainda não falou em uma retirada tática. Autoridades ucranianas afirmam que os russos sofrem cerca de 500 baixas por dia em Bakhmut, enquanto realizam ataques sucessivos, mas dizem que suas próprias perdas não são tão altas.
No cerco à região, as forças regulares da Rússia parecem ter substituído os mercenários do Grupo Wagner. Por enquanto, soldados ucranianos parecem manter o controle sobre a área.
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Se, ou quando, a cidade cair, espera-se que as forças invasoras tenham acesso às cidades de Slovyansk e Kramatorsk. Isso poderia permitir que Moscou capture toda a região leste de Donetsk, um de seus objetivos oficiais.
No entanto, isso envolveria a conquista de mais de 10 mil quilômetros quadrados. Como a Rússia obteve ganhos mínimos e custosos durante os 11 meses de guerra, um feito tão grandioso parece improvável.
Vuhledar
Em novembro passado, as forças russas falharam em capturar a cidade, mas desde então fazem ataques implacáveis na área, também em Donetsk.
Vuhledar é importante para Moscou por dois motivos. Em primeiro lugar, fica perto da única linha ferroviária que liga a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, e os territórios controlados pelo Kremlin no leste, ampliando o corredor terrestre idealizado pelo presidente Vladimir Putin. Também é desta cidade que as forças ucranianas fazem ataques contra os trens de abastecimento russos.
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Em segundo lugar, sua conquista se assemelha à de Bakhmut no sentido de que, para os russos, carrega um significado mais simbólico do que militar. Isso ajuda o Kremlin a justificar sua “operação militar especial”, além de apaziguar os críticos.
Zaporizhzhia
Longe do front oriental, a linha de conflito ao sul da cidade de Zaporizhzhia é outra direção que preocupa Kiev. Caso ganhe o controle da área, os russos poderiam avançar para o norte, em direção às cidades de Orikhiv e Pokrovsk (esta última na região de Donetsk), empurrando para longe as armas longo alcance da Ucrânia, que atualmente podem atingir o corredor terrestre que a Rússia criou no sul do país.
Dado que os lançadores de foguete HIMARS, fornecidos pelos Estados Unidos, conseguem atingir alvos a 80 km de distância, as cidades ocupadas de Melitopol e Tokmak estão confortavelmente dentro do alcance da Ucrânia. Mas, por enquanto, não há chance de avanço ucraniano para impedir o do inimigo. Valeriy Zaluzhnyy, comandante-em-chefe das Forças Armadas de Kiev, admitiu que não há equipamentos suficientes para tal ataque.
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Kharkiv
Apesar de estar a menos de 40 km da fronteira com a Rússia, Moscou nunca obteve controle sobre a segunda maior cidade do nordeste da Ucrânia.
Como tantas outras áreas, ela foi em grande parte dilacerada por ataques russos, com chuvas de mísseis implacáveis durante o inverno. E, segundo autoridades ucranianas, o aumento da frequência das investidas denuncia uma intensão de ofensiva.
Alguns militares locais da Ucrânia disseram que “não ficariam surpresos” se os russos tentassem capturar a cidade, especialmente com o solo congelado.
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Por enquanto, não há indicação de que o Kremlin possa ter mais sucesso do que no ano passado, mas a conquista traria uma vantagem estratégica significativa: as forças invasoras poderiam isolar a cidade de Kiev, impedindo que os soldados ucranianos ao sul de Kharkiv recuassem para ajudar a capital.
Kiev
A capital da Ucrânia ainda é o prêmio máximo da Rússia.
No ano passado, o Kremlin iniciou exercícios militares com Belarus, o que gerou temores de que as forças russas pudessem usar a nação aliada como plataforma de lançamento para uma nova invasão a Kiev. No entanto, Minsk negou ter planos de se juntar à ofensiva, e Moscou rejeitou as acusações.
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Agora, agências de inteligência no Ocidente e na própria Ucrânia são unânimes em dizer que a capital não está sob ameaça semelhante à que enfrentou no ano passado, quando forças russas foram expulsas da área por militares ucranianos.
Além disso, a Rússia usou soldados mais bem treinados em sua primeira tentativa, quando seu objetivo era derrubar o governo ucraniano. Mas se realmente houver uma ofensiva de primavera em larga escala, a segurança de Kiev precisará ser reavaliada.