Para aumentar suas tropas na ofensiva na Ucrânia, a Rússia deu início nesta primavera a uma nova campanha de recrutamento ao Exército que envolve pagamento de milhares de dólares e uma generosa compensação para familiares em caso de ferimento ou morte de um soldado. Os escritórios de recrutamento também trabalham com universidades e agências de serviço social para conquistar estudantes e desempregados.
Na sexta-feira, o vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia e ex-presidente do país, Dmitry Medvedev, afirmou que Moscou está se preparando para uma contra-ofensiva ucraniana, admitindo uma inversão de papéis. Nesta semana, a Ucrânia argumentou que o Kremlin está “perdendo forças”.
As ofertas de alistamento revelam a necessidade de pessoal no Exército e a pouca iniciativa da população em se juntar à guerra por vontade própria. Em setembro, a mobilização de 300 mil reservistas na Rússia, apresentada como uma convocação parcial”, gerou pânico na população porque tecnicamente a maioria dos homens com menos de 65 anos faz parte das reservas. Dezenas de milhares fugiram do país no lugar de se apresentarem aos escritórios de recrutamento.
O Kremlin nega que outra convocação esteja em andamento, mas especialistas afirmam que, no caso que aconteça, o governo já está atraindo homens para o voluntariado. Esse processo pode “evitar declarar uma segunda onda de mobilização formal”, de acordo com um relatório do Institute of the Study of War, um think tank com sede nos EUA.
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Homens de todo o país estão recebendo intimações de escritórios de alistamento. Na maioria dos casos, eles são solicitados a atualizar seus dados. Em alguns outros, recebem ordens para participar de treinamento militar.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que receber convocações para atualizar dados em escritórios de alistamento é uma “prática regular”.
Alguns relatos também afirmam que os governos regionais têm um certo número de voluntários para reunir. Algumas autoridades anunciaram que abririam centros para que os homens assinassem contratos que permitissem que fossem enviados para a guerra.
Anúncios não param de ser divulgados por todo o país. Na região oeste de Yaroslav, um deles prometia um bônus único de cerca de US$ 3.800 (R$ 19 mil) por alistamento e um salário mensal de até US$ 2.500 (R$ 13 mil) para os enviados à Ucrânia, mais cerca de US$ 100 (R$ 522) por dia para “participação em atividades operações ofensivas” e 650 dólares (R$ 3 mil) “por cada quilômetro de avanço em equipes de assalto”. Além disso, o voluntário também receberia isenções fiscais e seus filhos receberiam vantagens para entrar em universidades.
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Na região de Vologda, no entanto, quase todos os que foram ao escritório após receber uma intimação “são forçados a assinar um papel proibindo-os de deixar a região”, segundo Grigory Sverdlin, fundador de um grupo que ajuda os homens a evitar a mobilização. Outros, quando chegam aos escritório, são abordados pelos recrutadores propondo a ideia de se voluntariar, falando sobre ideias de amor à pátria.
Na Rússia, todos os homens entre 18 e 27 anos devem servir um ano nas Forças Armadas, embora muitos o evitem por motivos de saúde ou recebam isenção de estudos. A proporção de homens que evitam ser convocados é especialmente alta em Moscou e em outras grandes cidades.
De acordo com Kateryna Stepanenko, analista do Institute of the Study of War, a atual campanha de recrutamento é semelhante à realizada no verão passado antes da mobilização de setembro.
“Eles já recrutaram uma parte considerável das pessoas que tiveram incentivos financeiros no verão passado”, disse Stepanenko. “O que a campanha de mobilização de 300.000 militares nos disse é que não basta formar um grupo de ataque suficiente para a Rússia continuar suas operações ofensivas.”