Ativistas que denunciam publicidade em sites extremistas chegam ao Brasil
Com mais de 200.000 seguidores em cinco dias, o Sleeping Giants Brasil provoca reações dos líderes do 'gabinete do ódio', Carlos Bolsonaro e Filipe Martins
O grupo de ativismo virtual Sleeping Giants, que denuncia a presença de publicidade de empresas em sites que promovem notícias falsas e discursos extremistas, estreou seu perfil oficial no Twitter para o Brasil na segunda-feira 18 e, em menos de cinco dias, já conta com mais de 200.000 seguidores. A iniciativa internacional, que já chamou a atenção do ‘gabinete do ódio’ do Plácio do Planalto e é conhecida por ter custado milhões de reais de anunciantes ao Breitbart News, site americano de extrema-direita.
“Eu realmente achava que o povo brasileiro estava cansado das Fake News e do discurso de ódio na internet, mas jamais esperava contar com o apoio de 200.000 pessoas em apenas quatro dias de trabalho! Isso demonstra a importância de todo o projeto e sabemos disso!”, tuitou o Sleeping Giants Brasil nesta sexta-feira, 22.
Embora o Sleeping Giants Brasil não conte com o selo de verificação do Twitter para perfis de figuras públicas, a conta do Sleeping Giants nos Estados Unidos, que conta com esse aval, confirmou a vinculação do perfil brasileiro ao grupo.
Operante principalmente pelo Twitter, o Sleeping Giants publica imagens que comprovam a presença de anúncios publicitários em sites que divulgam notícias falsas ou discursos extremistas. O grupo de ativistas, então, compartilha essas imagens com os perfis oficiais no Twitter das empresas responsáveis pelos anúncios. Cabe, obviamente, à empresa decidir se bloqueia ou não a presença de seus anúncios no site.
O McDonald’s, a Claro e a Decathlon, dentre outras empresas, confirmaram por meio de seus perfis oficiais no Twitter terem retirado seus anúncios veiculados em sites de notícias falsas graças ao Sleeping Giants Brasil.
Após uma denúncia feita pelos ativistas na terça-feira 19, o Banco do Brasil retirou sua publicidade do site O Jornal da Cidade Online por algumas horas na quarta-feira 20 até, porém, reativou os anúncios antes do final da quinta-feira 21. A assessoria de imprensa do Banco do Brasil confirmou a VEJA nesta sexta-feira que os anúncios veiculados no Jornal da Cidade Online ainda estão ativos e afirmou desconhecer uma revisão do cenário.
Antes da reativação da publicidade no site, a estatal presidida pelo economista Rubem Novaes foi alvo de críticas do vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos).
“Marketing do Banco do Brasil pisoteia em mídia alternativa que traz verdades omitidas. Não falarei nada pois dirão que estou atrapalhando….. agora é você ligar os pontinhos mais uma vez e eu apanhar de novo, com muito orgulho! Obs: não conheço ninguém do Jornal Da Cidade”, tuitou o vereador.
Segundo a agência de verificação de notícias Estadão Verifica, o Jornal da Cidade Online publicou pelo menos oito artigos com conteúdos inverídicos, dentre eles uma pesquisa de opinião manipulada para indicar um crescimento da aprovação do presidente, Jair Bolsonaro, entre janeiro e novembro de 2019 e esconder o aumento na desaprovação do governo no mesmo período.
Em outro artigo, o site omitiu a queda no número de novos casos da Covid-19 no estado americano de Nova York para justificar uma pesquisa que “provaria” a ineficiência das medidas de isolamento social impostas pelo governador, o democrata Andrew Cuomo. O Jornal da Cidade Online ainda foi condenado em primeira instância a indenizar em 150.000 reais o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, por reportagens de “caráter indubitavelmente ofensivo e injurioso”.
‘Eles são os piores’
O Sleeping Giants, fundado em novembro de 2016, atua em pelo menos onze países, além do Brasil, por meio de agentes independentes. Os ativistas que participam do grupo também são anônimos entre si, ou seja, eles não conhecem nem a própria identidade uns dos outros.
O grupo ativista, que alega não contar com financiamento privado, afirma arrecadar recursos para as suas operações por meio de plataformas de financiamento como o GoFundMe.
Segundo o jornal El País, o Breitbart News, o site de extrema-direita que alavancou Steve Banon, conselheiro da Casa Branca nos primeiros sete meses do governo Trump, perdeu mais de 50 milhões de reais de marcas que bloquearam a veiculação de seus anúncios por vontade própria após serem notificados pelo Sleeping Giants.