O ex-presidente argentino Mauricio Macri se apresentou em tribunal federal nesta quinta-feira, 28, por suposta espionagem ilegal de parentes de tripulantes de um submarino que afundou há quatro anos, matando todos a bordo. A audiência, no entanto, foi suspensa antes mesmo de o político dar declarações, já que o juiz não teve autorização do governo de Alberto Fernández para abrir segredos da Inteligência.
Esta foi a terceira convocação de Macri no processo, já que a primeira, para depoimento em 7 de outubro, foi adiada por viagem do ex-presidente aos Estados Unidos e acabou sendo remarcada para o último dia 20, também sendo remarcada. Junto a ele, também estão sendo processados no caso os então chefes dos serviços de Inteligência Gustavo Arribas e Silvia Majdalani.
Similarmente, o ex-presidente foi processado em 2010 por grampos ilegais de adversários quando era prefeito de Buenos Aires, de 2007 a 2015, em um caso que foi arquivado logo depois de ter assumido a Presidência.
“Foi um erro grosseiro do juiz. Um ato constrangedor”, disse o advogado de defesa do ex-presidente, Pablo Lanusse. “O juiz nos convocou sabendo que Macri não poderia testemunhar”.
Na ação, que está a cargo do promotor Martín Bava, o antigo chefe de governo é acusado de ter ordenado que fossem espionadas as famílias dos 44 tripulantes do submarino ARA San Juan de la Armada, que foi encontrado afundado, em 2018, um ano após ter desaparecido.
Se for considerado culpado, o ex-presidente pode enfrentar de três a dez anos de prisão, de acordo com especialistas ouvidos pela imprensa local.
O processo foi iniciado em setembro de 2020, após uma denúncia feita pela Agência Federal de Inteligência da Argentina, já durante o governo de Fernández, sucessor de Macri. Na época, Cristina Caamano, diretora da agência, apresentou uma queixa criminal alegando ter descoberto evidências que mostravam a suposta espionagem.
“Foi encontrado um número significativo de documentos endereçados ao então presidente Macri, descrevendo exaustivamente as coisas que havíamos dito”, disse Luis Tagliapietra, pai de um dos tripulantes mortos, à Associated Press. “Era a transcrição de frases inteiras que havíamos dito em situações privadas”.
À imprensa, o advogado de Macri ressaltou também o momento das acusações, dado o cenário eleitoral. A Argentina está há poucos dias das eleições legislativas, marcadas para 14 de novembro, em um pleito que deve servir como um termômetro para o governo de Alberto Fernández. O governo de coalizão, em seu segundo ano, espera se recuperar de uma dura derrota nas primárias, no mês passado.
O processo judicial, além de tentar explicações sobre as denúncias de espionagem, visa detectar se houve irregularidades nas operações de buscas e no próprio desaparecimento do submarino, que pertencia à Marinha argentina. O equipamento só foi localizado depois de um ano, durante uma operação da empresa americana Ocean Infinity, embora os destroços e os corpos das vítimas nunca tenham sido retirados do mar.