Antes mesmo do encontro desta terça-feira (12) com o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, várias vozes, incluindo personalidades como o presidente sul-coreano Moon Jae-in, afirmavam que o presidente Donald Trump talvez merecesse o Prêmio Nobel da Paz pelos seus esforços de diálogo com Pyongyang.
Além de Moon, o ex-presidente americano Jimmy Carter, o ministro britânico das Relações Exteriores, Boris Johnson, e dezoito congressistas republicanos apoiaram a indicação do presidente americano para o prêmio, em reconhecimento de “seu trabalho incansável para trazer paz para o mundo”.
Em uma entrevista ao canal de televisão Sky News em maio, Boris Johnson demonstrou seu apoio a Trump: “Se ele pode concertar a Coreia do Norte e pode concertar o acordo nuclear com o Irã eu não vejo porque ele seria um candidato menos digno para o Nobel da Paz do que Barack Obama, que ganhou antes mesmo de fazer qualquer coisa”. Jimmy Carter também se mostrou otimista em relação às negociações com a Coreia do Norte. “Se o presidente Trump for bem-sucedido em conseguir um acordo de paz que seja aceitável para as duas partes, eu acho que ele certamente merece ser considerado”, disse o ex-presidente em entrevista ao site Politico.
Dez anos após ter dado a Barack Obama um prêmio bastante questionado por ser prematuro, o comitê do Nobel deverá, entretanto, ser mais cuidadoso para evitar repetir os erros do passado.
Em 2000, o Nobel foi para o então presidente sul-coreano, Kim Dae-jung, por seus esforços de reconciliação com o Norte, os quais posteriormente se mostraram falsos, nada além de uma campanha midiática.
O presidente americano e o ditador norte-coreano assinaram, nesta terça-feira em Singapura, um documento bastante vago, que reafirma o compromisso de Pyongyang com “uma desnuclearização completa da península coreana”, um desenvolvimento que alguns gostariam de ver coroado pela prestigiosa recompensa atribuída todos os anos no início de outubro.
Os especialistas se mantêm prudentes, porém, em razão do “timing” e da personalidade dos dois líderes: um, que abalou a diplomacia internacional, ao retirar os Estados Unidos do acordo nuclear iraniano, por exemplo; outro, considerado culpado de várias violações dos direitos humanos.
Se de fato houver avanços no terreno na península coreana, o comitê Nobel estará, então, diante de um dilema corneliano, considerando-se o passado dos dois principais protagonistas.
“É muito cedo”, reagiu Asle Sveen, historiador especializado em Prêmio Nobel. “Mas, se isso levar a um desarmamento real na península coreana, será muito difícil não dar o prêmio. Seria uma situação bizarra, mas já aconteceu de pessoas de passado muito violento terem recebido o Prêmio Nobel da Paz”, lembrou.
Para o professor sueco Peter Wallensteen, especializado em questões internacionais, o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, merece ser incluído no caso de uma eventual recompensa por seus esforços no diálogo com Pyongyang: “Na verdade, Moon poderia ser aquele que merece mais, mas seria um tapa na cara de Trump”.
(Com AFP)