O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou nesta sexta-feira, 7, que a disseminação das tecnologias de inteligência artificial pode aumentar o risco de uma guerra nuclear. A declaração foi feita por meio de um vídeo exibido na reunião anual da Associação de Controle de Armas dos Estados Unidos (ACA), em Washington.
“A humanidade está no fio da navalha. O risco de utilização de uma arma nuclear atingiu níveis nunca vistos desde a Guerra Fria”, disse Guterres. “Os Estados estão envolvidos numa corrida armamentista qualitativa. Tecnologias como a inteligência artificial estão multiplicando o perigo.”
Desde o fim da Guerra Fria, há mais de 30 anos, Estados Unidos e Rússia ainda mantêm seus mísseis balísticos intercontinentais em estado de alerta. Ou seja, estão prontos para serem lançados em minutos, caso necessário. Agora, com a ajuda da IA, o disparo pode ser ainda mais rápido do que antes.
“Todos os países devem concordar que qualquer decisão sobre o uso nuclear precisa ser tomada por humanos, e não por máquinas ou algoritmos”, argumentou o secretário-geral.
Nos últimos meses, o presidente russo, Vladimir Putin, fez diversas ameaças sobre a utilização de armas nucleares em conexão com a guerra na Ucrânia. Nesta quarta-feira, o chefe do Kremlin afirmou que, caso a soberania do país seja colocada em perigo, as forças militares da Rússia não vão hesitar em utilizar armamentos nucleares.
Compromisso mútuo
No vídeo exibido na reunião, Guterres também reiterou a importância de todas as nações levarem a sério suas obrigações de não-proliferação, chegando em um acordo sobre não utilizar armas nucleares em nenhum cenário. O último compromisso que limitava os arsenais de ogivas da Rússia e dos Estados Unidos, o New Start, foi suspenso em 2023 pelo Kremlin. Assim, o secretário-geral defendeu que países detentores de armas nucleares devem ser responsáveis por um projeto mais amplo de desarmamento.
“O regime concebido para impedir a utilização, os testes e a proliferação de armas nucleares está se enfraquecendo”, disse Guterres. “Também apelo aos Estados Unidos e à Federação Russa para que voltem à mesa de negociações, implementem integralmente o tratado New Start ou cheguem a acordo sobre um substituto”, acrescentou.
Na reunião da ACA do ano passado, o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, afirmou que o país estaria disposto a iniciar conversas “sem condições prévias” sobre um documento para substituir o New Start. No entanto, a proposta foi rejeitada pelo Kremlin.
Guterres também apelou para que as potências reafirmem uma moratória sobre testes nucleares, além de se comprometerem a não serem nunca as primeiras a lançar uma ogiva. No início deste ano, a China sugeriu um tratado sobre “não utilizar primeiro”, e os Estados Unidos afirmaram que estavam prontos para uma discussão, mas as potências, por enquanto, não conseguiram marcar um follow-up da reunião bilateral sobre controle de armas realizada em novembro passado.
Há dois anos, o governo americano, britânico e francês emitiram uma declaração conjunta sobre a necessidade de manter os lançamentos nucleares sob “controle humano”. Nem Rússia nem China emitiram declarações similares.