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‘Biden poderia ter evitado a guerra na Ucrânia, não incitado’, diz Lula

Em entrevista de capa da revista 'Time', Lula afirmou que líderes ocidentais e até o presidente ucraniano compartilham culpa pela guerra

Por Amanda Péchy
Atualizado em 4 Maio 2022, 21h30 - Publicado em 4 Maio 2022, 09h18

Às vésperas da eleição, muitos acusaram Lula de estar quieto demais e fazer uma campanha demasiado discreta. No entanto, o ex-presidente está se movimentando para difundir a narrativa de que pode “salvar o Brasil” de um rol de catástrofes, que vão desde uma inflação descontrolada à ameaça à democracia do país pela extrema direita. Nesta quarta-feira, 4, “o segundo ato de Lula” virou capa da revista americana Time, que o descreve como “um cavaleiro branco cavalgando para fora do exílio”.

Na entrevista, suas visões sobre política externa o colocam contra o vento. Sobre a guerra na Ucrânia, ele afirmou que os líderes dos Estados Unidos e da União Europeia não conseguiram cumprir com seu dever por não terem “sentado à mesa” com o presidente russo, Vladimir Putin, antes do início do conflito, em 24 de fevereiro.

“Os Estados Unidos têm muita influência política. E Joe Biden poderia ter evitado (a guerra), não incitado”, disse. “Ele poderia ter participado mais. Biden poderia ter tomado um avião para Moscou para conversar com Putin. Esse é o tipo de atitude que você espera de um líder”, completou.

O ex-presidente defendeu que os Estados Unidos e a União Europeia deveriam ter assegurado a Putin que a Ucrânia não entraria na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), fazendo uma comparação com a crise dos mísseis cubanos de 1962, quando os americanos e os soviéticos concordaram em retirar os mísseis dos “quintais” um do outro.

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Ele enfatizou que as sanções à Rússia impactaram injustamente a economia de outras regiões. “A guerra não é solução”, disse. “E agora vamos ter de pagar a conta por causa da guerra na Ucrânia. Argentina, Bolívia também terão de pagar. Você não está punindo só Putin. Você está punindo muitos países diferentes, você está punindo a humanidade.”

Para Lula, até mesmo o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que permaneceu no país durante toda a guerra e faz aparições inspiracionais na televisão, tem um pouco de culpa. A falta de negociações se deveria, em parte, ao desejo de Zelensky de permanecer sob os holofotes – afinal, ele é um comediante e estrela de televisão.

“Esse cara é tão responsável quanto Putin pela guerra. Porque na guerra não há apenas uma pessoa culpada”, afirmou. Ele completou que a celebração de Zelensky pelos líderes ocidentais o “encoraja, então ele pensa que é a cereja do bolo”.

“Devíamos ter uma conversa séria. O.k., você era um bom comediante. Mas não vamos fazer guerra para você aparecer na TV”, disse Lula.

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+ Lula rejeita ‘já ganhou’, mas insiste no ‘já ganhei’

Sobre a possibilidade de vencer as eleições no Brasil, Lula disse que o segredo de seu sucesso está na capacidade de se relacionar com os trabalhadores brasileiros usando “o coração, e não apenas a cabeça” para governar. “Sinto orgulho de ter comprovado que um metalúrgico sem diploma universitário é mais competente para governar este país do que a elite do Brasil”, declarou.

Ele chegou a comparar-se ao jogador de futebol americano Tom Brady – casado com a modelo brasileira Gisele Bündchen – ao dizer que um novo mandato em 2023 seria ainda melhor que seus governos na década de 2000. “(Tom Brady) é o melhor jogador do mundo há muito tempo, mas em cada jogo seus fãs exigem que ele jogue melhor do que no último. Para mim, com a presidência é a mesma coisa. Só estou concorrendo porque posso fazer melhor do que antes.”

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