O presidente Joe Biden afirmou nesta segunda-feira, 23, que os Estados Unidos usariam força militar para defender Taiwan caso a ilha fosse invadida pela China, em uma declaração que rapidamente gerou respostas de Pequim e correções da Casa Branca. Segundo assessores presidenciais, que prontamente se manifestaram, a fala não representa nenhuma mudança na política americana em relação à ilha.
Em Tóquio, durante segundo dia de sua visita ao Japão em meio à crescente preocupação com a atividade militar chinesa na região, Biden disse que a responsabilidade dos EUA de proteger a ilha é “mesmo mais forte” após a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro.
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“Esse é o compromisso que assumimos”, disse Biden. “Nós concordamos com a política de uma só China, nós aderimos a ela e a todos os acordos feitos a partir daí. Mas a ideia de que [Taiwan] pode ser tomada à força não é apropriada”.
Segundo o democrata, caso um conflito acontecesse na Ásia, o envolvimento americano seria mais significativo em comparação ao leste europeu.
“Isso deslocaria toda a região e seria mais uma ação semelhante ao que aconteceu na Ucrânia. E por isso seria um fardo ainda mais pesado”.
Apesar de não contestarem a soberania reivindicada por Pequim em relação a Taiwan, e não manterem relações diplomáticas formais com a ilha, os Estados Unidos seguem um posicionamento definido como “ambiguidade estratégica”, no qual têm acordo de fornecimento de armas e assistência à ilha e se dizem comprometidos a garantir que ela possa se defender.
Em resposta à fala de Biden, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin, disse que a questão de Taiwan era “um assunto puramente interno para a China”.
“Em questões relacionadas aos interesses centrais da soberania e integridade territorial da China, a China não tem espaço para concessões ou concessões”, disse Wang, que ressaltou que “ninguém deve subestimar a firme determinação, a vontade firme e a forte capacidade do povo chinês em defender a soberania nacional e a integridade territorial”.
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Em outubro do ano passado, o presidente americano já havia citado a possibilidade de defender Taiwan em caso de ataque. A fala foi rapidamente respondida por Pequim, que alertou que os americanos devem “atuar com prudência” e se abster de enviar “sinais equivocados”.
Aumento de tensões
As tensões entre os EUA e a China sobre Taiwan vem aumentando desde meados do ano passado, na esteira de avanços militares de ambas as partes. Por um lado, a China realizou uma série de incursões aéreas perto de Taiwan, enquanto os EUA reconheceram que têm um pequeno contingente de militares na ilha há pelo menos um ano para treinar as forças locais.
O governo de Pequim condenou o exercício, afirmando que “os Estados Unidos e o Canadá se uniram para provocar e criar problemas, pondo seriamente em risco a paz e a estabilidade do Estreito de Taiwan”. O próprio governo chinês, porém, vem realizando manobras militares para intimidar o governo da ilha. Apenas em outubro, cerca de 150 aeronaves chinesas sobrevoaram a Zona de Identificação de Defesa Aérea de Taiwan.
A China não reconhece a independência de Taiwan e a considera uma “província rebelde”. Apesar do governo democrático local, Pequim deseja reanexar Taiwan, uma posição que os Estados Unidos consideram inaceitável. Os exercícios dos países ocidentais têm a finalidade de reforçar o compromisso de defender a ilha em caso de agressão chinesa
EUA e China estão, deste modo, levando até o limite o status quo criado em 1979, quando Washington reconheceu Pequim como o único governo chinês com o entendimento de que Taiwan teria um futuro pacífico.
Tudo isso criou um clima rarefeito na região, que fez com que as relações entre Taipé e Pequim entrassem no seu pior momento em quatro décadas, de acordo com as autoridades taiwanesas.
O ministro da Defesa de Taiwan, Chiu Kuo-cheng, afirmou até mesmo que a China será “capaz de organizar uma invasão em grande escala” da ilha até 2025, o que disparou o alerta em Washington.