Luis Arce, do Movimento ao Socialismo (MAS), o partido do ex-mandatário Evo Morales, deverá ser o novo presidente da Bolívia. Segundo duas apurações extraoficiais, Arce obteve cerca de 53% dos votos contra 30% de seu principal adversário, o ex-presidente Carlos Mesa.
A presidente interina da Bolívia, Jeanine Añez, confirmou a informação em suas redes sociais nesta segunda-feira, 19. “Ainda não temos a contagem oficial, mas pelos dados que temos acesso, o senhor Arce e o senhor Choquehuanca ganharam a eleição”, escreveu Añez em referência a Luis Arce e seu vice, David Choquehuanca. “Cumprimentos aos ganhadores e peço que governem pensando na Bolívia e na democracia.”
O resultado oficial do pleito de domingo, porém, deve demorar para ser divulgado. Pouco antes da votação, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) suspendeu o sistema que pretendia atualizar a contagem de votos de maneira mais ágil e com informes dos resultados parciais para evitar fraudes.
O sistema havia sido questionado no ano passado por levantar incertezas sobre o resultado e por ter sido interrompido quando a contagem já estava em mais de 80% dos votos.
Logo depois de saber da grande diferença a seu favor, Luis Arce proferiu um discurso notavelmente calmo: “Recuperamos a democracia e recuperamos a esperança. Nosso compromisso é trabalhar, levar nosso programa adiante.
Morales, fez postagens nas redes sociais e também comemorou os números. Ele repetiu que os bolivianos “recuperaram a pátria” e festejou: “Lucho [apelido de Luis] presidente!”.
Mesa, o principal adversário de Arce nas eleições, ainda não disse nada sobre os resultados. Ele deve se pronunciar ainda na manhã desta segunda-feira.
Pai do milagre econômico de Morales
Economista de 57 anos, Arce estudou na estatal Universidade Maior de San Andrés em La Paz e fez mestrado na universidade britânica de Warwick. Trabalhou por 18 anos no Banco Central, onde ocupou diversos cargos e foi ministro da Economia e Finanças por quase todo o período de governo de Morales, com uma pausa de 18 meses. Tem um perfil mais tecnocrata que político.
Durante a presidência de Morales, a Bolívia elevou o Produto Interno Bruto (PIB) de 9,5 bilhões de dólares anuais a 40,8 bilhões e reduziu a pobreza de 60% a 37%, de acordo com dados oficiais.
Isto permitiu o pagamento de gratificações a milhares de gestantes, estudantes e idosos, e investimentos milionários para tentar industrializar o lítio e o gás natural.
Medidas de segurança
Quase 7,3 milhões de eleitores compareceram às urnas e também renovaram as 166 cadeiras do Congresso bicameral. Os bolivianos respeitaram as medidas de segurança motivadas pela pandemia, o que tornou o processo de votação mais lento.
O país andino enfrenta a crise mais econômica mais profunda em quase 40 anos, com uma contração prevista do PIB de 6,2% em 2020.
Nas eleições de 2019 a contagem rápida foi suspensa por mais de 20 horas e quando foi retomada Morales apareceu com um avanço que o tornava vencedor no primeiro turno. A missão eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA) afirmou que houve manipulação.
Por três semanas, a oposição e simpatizantes do governo tomaram as ruas e confrontos violentos foram registrados, com um balanço de 30 mortos. Morales perdeu o apoio das Forças Armadas e renunciou ao cargo de presidente.
(Com AFP)