O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira, 28, que o governo brasileiro poderá abrir um escritório de negócios em Jerusalém, em vez de transferir a embaixada em Israel para a cidade, como chegou a anunciar mais de uma vez no passado.
“Talvez abramos agora um escritório de negócios em Jerusalém”, disse o presidente ao ser questionado se trataria sobre a possível mudança da embaixada durante a viagem que fará a Israel na semana que vem.
O aparente recuo em relação à mudança da embaixada de Tel Aviv para Jerusalém – um assunto sensível na região e que desagrada os países árabes, grandes importadores de carne de aves do Brasil – vem com a resistência dos militares do governo e da equipe econômica, que teme as consequências para as exportações brasileiras.
Bolsonaro não descartou totalmente a transferência da embaixada ao lembrar que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, levou nove meses para tomar a decisão final de mudar a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém.
Apesar de ter falado seguidas vezes, antes de tomar posse, que faria a mudança, desde que assumiu a Presidência Bolsonaro passou a ser mais cuidadoso com o assunto.
O vice-presidente, Hamilton Mourão, chegou a dizer acreditar que o tema iria “para as calendas”. Além disso, mesmo com a viagem próxima, uma fonte do Itamaraty contou que não há nenhuma instrução desse tipo aos diplomatas.
A hipótese da abertura de um escritório de negócios em Jerusalém surgiu no próprio Itamaraty. Foi apresentada pelos diplomatas ao governo como uma alternativa menos drástica e que não desagradaria os países árabes.
A transferência da embaixada é um gesto de reconhecimento de Jerusalém como capital do Estado de Israel, questão que divide árabes e israelenses no conflito no Oriente Médio, além da própria comunidade internacional.
Os palestinos reivindicam a porção oriental da cidade como capital de seu futuro Estado, mas os israelenses a consideram indivisível. Pelo plano de partilha da Palestina, de 1947, a cidade deveria ter status internacional, mas Israel tomou a parte ocidental na guerra de 1948. Anexada pela Jordânia, a porção do Oriente de Jerusalém foi ocupada por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967.
Atualmente, a maior parte dos países mantêm suas embaixadas em Tel Aviv, com exceção de Estados Unidos e Guatemala. Honduras e Romênia anunciaram nesta semana a intenção de transferir sua representação diplomática para Jerusalém.
Mudança de posição
Durante a campanha eleitoral de 2018, Jair Bolsonaro prometeu que uma das prioridades de sua administração seria transferir a embaixada brasileira. Desde que tomou posse, contudo, seu governo tem colocado o tema em banho-maria.
“Estamos estudando a possibilidade de tomar essa decisão na hora certa”, afirmou Bolsonaro em uma entrevista concedida de Washington à emissora americana Christian Broadcasting Network (CBN) na semana passada.
“Quando Trump assumiu, ele demorou nove meses para tomar essa decisão e eu estou apenas no meu terceiro mês”, disse, se referindo à decisão do presidente dos Estados Unidos.
Mundo árabe
Quando o Brasil anunciou sua intenção de transferir a embaixada para Jerusalém, no ano passado, países árabes condenaram a decisão imediatamente.
A Liga Árabe declarou, na ocasião, que se o plano fosse mantido, a região tomaria as “medidas políticas, diplomáticas e econômicas necessárias” diante de um ato considerado como “ilegal”.
Já o governo do Irã afirmou que tal medida “não vai ajudar a paz, a estabilidade, a segurança e a recuperação dos direitos do povo palestino”.
Impacto econômico
O setor agrícola teme reflexos negativos nas exportações com a mudança da embaixada brasileira para Jerusalém. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que, em 2018, o Brasil exportou para o Oriente Médio — excluído Israel — um total de 9,4 bilhões de dólares em produtos.
O Irã foi o 23º maior comprador de bens brasileiros, com 2,26 bilhões de dólares. Já Israel importou 321 milhões de dólares do Brasil no mesmo período, o que coloca o país no posto de 65º maior mercado brasileiro.
O Brasil também é um dos maiores exportadores de carne Halal do mundo, e esse comércio pode enfrentar problemas se Bolsonaro irritar os países árabes com a transferência da embaixada. Isso poderia afetar fortemente as exportações para os principais mercados do Oriente Médio das empresas BRF e JBS.
Os alimentos Halal são aqueles permitidos pela religião islâmica. Entre as carnes, os muçulmanos só comem frango ou carne bovina se o animal tiver sido degolado com o corpo voltado à cidade sagrada de Meca, ainda vivo, e pelas mãos de um muçulmano praticante, geralmente árabe.
Antes do abate de cada animal, o degolador pede autorização a Deus, em árabe, como forma de mostrar obediência e agradecimento pelo alimento. Peixes são considerados Halal por natureza, porque saem da água vivos. Já os suínos são considerados impuros pelo modo como se alimentam.
(Com Reuters)