Bolsonaro recebe líderes da China e Índia hoje em cúpula dos Brics
Presidente brasileiro terá que atuar como equilibrista ao tentar fortalecer laços com Xi Jinping sem se indispor seu principal aliado Donald Trump
O presidente Jair Bolsonaro se reunirá nesta quarta-feira, 13, em Brasília, com o presidente da China, Xi Jinping, e com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, em encontros bilaterais às margens da cúpula oficial dos Brics.
A reunião anual que ocorrerá entre esta quarta e quinta será limitada aos encontros entre os líderes brasileiro, russo, indiano, chinês e sul-africano, sem a participação tradicional de outros países da região onde a cúpula é celebrada. O continente está passando por convulsões e as posições do Brasil divergem das de Rússia e China em questões como a crise na Venezuela.
Poucas semanas após sua primeira visita oficial à China, Bolsonaro receberá Xi em Brasília para inaugurar uma série de reuniões bilaterais à margem da reunião, que este ano se concentrará no crescimento econômico e na inovação. A cúpula ocorre em meio à guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, as duas maiores economias mundiais.
Bolsonaro, pouco afeito aos rodeios da diplomacia, terá que atuar esta semana como um verdadeiro equilibrista, ao tentar fortalecer os laços com seu colega chinês sem se indispor seu principal aliado Donald Trump.
O presidente brasileiro é um fervoroso admirador do chefe de Estado americano, com quem compartilha a rejeição pelo multilateralismo e das ideologias de esquerda, mas enfrenta pressões internas dos setores de agronegócio e mineração, que precisam manter um bom relacionamento com a China.
As críticas frequentes de Jair Bolsonaro à China durante a campanha presidencial do ano passado também deixaram diplomatas dos dois lados receosos de que ele pudesse partir para a ofensiva em uma das maiores parcerias comerciais do mundo. Mas 11 meses depois de ele assumir a presidência, a visita de Xi Jinping parece prestes a consumar uma restauração do relacionamento.
Maior parceira comercial do Brasil, com quem teve um fluxo comercial de 98,7 bilhões de dólares no ano passado, a China compra vastas quantidades de commodities brasileiras. A demanda chinesa por soja e outros produtos agrícolas disparou em meio à guerra comercial de Pequim com os Estados Unidos.
Na véspera da eleição do ano passado, as coisa pareciam muito diferentes. “A China não está comprando no Brasil, está comprando o Brasil”, disse Bolsonaro em diversas ocasiões.
Mas o capitão da reserva adotou um tom mais conciliador desde que chegou ao poder –houve reuniões de alto nível e gestos amistosos.
A China autorizou exportações de 45 processadores de carne brasileiros, um gesto estimulado pelas visitas do vice-presidente, Hamilton Mourão, e da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, no início do ano.
As estatais petroleiras chinesas CNOOC e CNODC foram as únicas licitantes, além da Petrobras , em um grande leilão de jazidas de petróleo na semana passada após um convite feito por Bolsonaro durante sua visita à nação asiática.
Na quinta-feira, 13, Bolsonaro ainda tem encontros bilaterais marcados com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e da África do Sul, Cyril Ramaphosa.
Ainda vigentes
As disparidades em seu poderio econômico, bem como suas profundas diferenças em relação a questões como as mudanças climáticas ou a crise na Venezuela, levantaram dúvidas sobre a relevância do Brics, que era um importante motor da economia mundial no início do século.
Mas os tempos mudaram. A agência de classificação de risco S&P Global Ratings disse no mês passado que o grupo “pode não fazer mais sentido”, alegando que “a trajetória econômica de longo prazo divergente entre os cinco países enfraquece o valor analítico de ver o BRICS como um agrupamento econômico coerente.
No entanto, os líderes dos países do bloco consideraram que a viagem a Brasília valeria a pena e confirmaram sua presença.
Bolsonaro quebrou a tradição removendo a reunião do Brics Plus da agenda, que permite que os membros do bloco se encontrem com líderes dos países vizinhos do anfitrião.
Essa decisão foi tomada, segundo fontes diplomáticas citadas pela mídia, após um desentendimento sobre se deveriam convidar o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ou o líder da oposição Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino de mais de cinquenta países.
O Brasil é o único país do Brics que apoia Guaidó, enquanto China e Rússia apoiam Maduro. A ausência de convidados de países vizinhos pode ser um sinal para o resto do mundo da falta de ambição de Bolsonaro em apresentar o Brasil como um líder regional.
Anúncios importantes não são esperados no final da cúpula na quinta-feira, principalmente devido ao “baixo entusiasmo” do governo brasileiro em relação à reunião, avalia a consultoria Control Risks.
Apesar do ceticismo de Bolsonaro sobre o Brics, o grupo pode se tornar mais importante para o Brasil se um candidato democrata triunfar nas eleições dos Estados Unidos em 2020. Isso deixaria o Brasil ainda mais isolado, após um ano de disputas diplomáticas com a Europa e os governos de esquerda da América Latina.
(Com AFP e Reuters)