O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, assegurou neste sábado, 14, que houve “enormes avanços” para se chegar a um acordo com a União Europeia (UE) sobre o Brexit, em uma entrevista na qual comparou o Reino Unido ao incrível Hulk, o musculoso personagem dos quadrinhos. As declarações foram dadas pouco após sofrer mais um revés. O ex-ministro Sam Gyimah, que era do partido conservador, entrou para o Partido Liberal-Democrata.
“Quando cheguei a este cargo, todo mundo dizia que não era possível nenhuma mudança no acordo de saída” do Reino Unido da UE, disse o primeiro-ministro ao jornal The Mail on Sunday. “Mas os dirigentes da UE mudaram de parecer e há uma conversa muito boa em curso sobre como abordar as questões da fronteira norte-irlandesa”.
A fronteira entre a província britânica da Irlanda do Norte e a República da Irlanda é o principal entrave nos diálogos sobre o Brexit. A denominada “salvaguarda irlandesa”, pensada para evitar a reinauguração de uma fronteira física entre os dois territórios, gera uma grande polêmica, e foi em grande parte o motivo pelo qual os deputados britânicos rejeitaram em três ocasiões o tratado de saída negociado por Theresa May, forçando sua renúncia da chefia de governo.
Trata-se de uma solução de último recurso que só entraria em vigor se, após um período de transição previsto no acordo, Londres e Bruxelas não acordam uma solução melhor, e que criaria um “território alfandegário único”, que englobaria a UE e o Reino Unido, o que limitaria a capacidade de Londres de negociar tratados comerciais com outros países.
“Há muito trabalho pela frente e até 17 de outubro”, quando os líderes da UE se reunirão para uma cúpula final da saída do Reino Unido do bloco, disse Johnson. “Mas vou para essa cúpula e vou conseguir um acordo, tenho muita confiança”.
Antes disso, Boris Johnson se reunirá na segunda-feira em Luxemburgo com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o chefe negociador do bloco para o Brexit, Michel Barnier.
Durante a entrevista, Boris Johnson comparou o Reino Unido ao Hulk. “Quanto mais o Hulk se irrita, mais forte fica e sempre escapa, embora pareça estar fortemente preso, como é o caso deste país”, disse. “Sairemos em 31 de outubro […] acreditem em mim”.
Revés
O primeiro-ministro britânico conservador, Boris Johnson, sofreu um novo revés neste sábado com a deserção de mais um deputado de seu partido, que decidiu se unir a uma formação opositora contrária ao Brexit. Sam Gyimah, ex-ministro das universidades, entrou para o Partido Liberal-Democrata em sua conferência anual em Bournemouth, no lado sul da Inglaterra.
“Boris Johnson dá uma difícil escolha aos parlamentares moderados e progressistas do partido conservador: aceitar um Brexit sem acordo ou abandonar a vida pública”, lamentou. “Eu escolho continuar lutando pelos valores em que sempre acreditei comoliberal-democrata.”
Sua saída ocorre poucos dias depois da do deputado conservador Phillip Lee, que fez Johnson perder a maioria absoluta no Parlamento. Gyimah é o sexto deputado a entrar para o Partido Liberal-Democrata, que conta agora com18 membros na Câmara dos Comuns, de 650 assentos. “Está claro que os liberais-democratas são o ponto de encontro daqueles que querem permanecer” na União Europeia (UE), reagiu a líder do partido, Jo Swinson.
No ano passado, Gyimah havia renunciado ao governo da então premiê Theresa May, devido às suas desavenças com a estratégia de tirar a Grã-Bretanha da União Europeia. Defensor fervoroso de um novo referendo sobre o Brexit, foi muito crítico a Johnson, que ameaça abandonar a UE em 31 de outubro com ou sem acordo sobre as condições de saída. O ex-ministro, de 43 anos, que chegou a ser considerado uma estrela em ascensão do partido, disputou com Johnson o comando do partido em junho.
Johnson se reunirá na segunda-feira em Luxemburgo com o presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, e o chefe da negociação do Brexit na UE, Michel Barnier, para tentar chegar a um acordo sobre o Brexit. Os deputados aprovaram uma lei que ordena a Johnson buscar uma prorrogação do prazo para além de 31 de outubro se não surgir nenhum acordo da cúpula da UE, em 17 e 18 de outubro.