Boris Johnson: Onda de renúncias ministeriais pressionam por sua saída
A saída de seus ministros da Economia e da Saúde, devido a um novo escândalo no governo, levou à renúncia de mais 15 políticos de baixo escalão
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, amanheceu nesta quarta-feira, 6, se agarrando ao poder com todas as forças. Seu apoio diminui cada vez mais, à medida que o isolado premiê enfrenta uma onda de renúncias de seus ministros – não muito distante do que aconteceu com a sucessora, Theresa May, antes de deixar o cargo.
Os ministros da Economia (Rishi Sunak) e da Saúde (Sajid Javid) de Johnson renunciaram na terça-feira 5 após (mais) um escândalo a atingir o governo. Segundo eles, o líder britânico não estava apto para governar. O movimento provocou a saída subsequente de cerca de 15 políticos de baixo escalão e a retirada do apoio de legisladores leais.
Esse último escândalo envolve uma nomeação de Johnson de um legislador para um papel envolvido no bem-estar e disciplina do partido. Ele precisou se desculpar pela escolha, porque apontou o político ao cargo mesmo depois de ser informado de que havia sido denunciado por assédio sexual. O legislador foi forçado a renunciar, e o porta-voz de Johnson culpou pelo incidente um “lapso na memória” do premiê.
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“Está claro para mim que esta situação não mudará sob sua liderança. Portanto, você também perdeu minha confiança”, disse Javid em sua carta de renúncia.
Não está claro se, com tal queda no apoio, o primeiro-ministro conseguirá preencher as vagas.
Johnson, que deve comparecer na Câmara dos Comuns ainda nesta quarta-feira, procurou reafirmar a sua autoridade, nomeando rapidamente Nadhim Zahawi como ministro das Finanças. No entanto, o ex-ministro da Educação foi recebido com notícias de novas renúncias no gabinete.
O procurador-geral Alex Chalk, o segundo consultor jurídico mais importante do governo, disse que o efeito cumulativo de uma série de escândalos fez com que o público não acreditasse mais no governo.
“Lamento dizer que compartilho desse julgamento”, disse Chalk.
Johnson, ex-jornalista e prefeito de Londres que se tornou o menino-propaganda do Brexit, obteve uma vitória eleitoral esmagadora em 2019. Isso foi antes de adotar uma abordagem combativa, e muitas vezes caótica, do governo.
Sua liderança foi atolada por escândalos e erros, especialmente nos últimos meses. Seu manejo inicial da pandemia foi amplamente criticado. O primeiro-ministro foi multado pela polícia por violar as restrições contra a Covid-19 em um dos piores momentos da pandemia no Reino Unido, e uma investigação do governo sobre festas em seu escritório em Downing Street responsabilizou Johnson por falta de liderança.
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Ele também foi bombardeado por críticas de que não teria feito o suficiente para enfrentar a inflação e a crise de custo de vida no país, com muitos britânicos lutando para lidar com o aumento nos preços de combustível e alimentos. A abordagem combativa de Johnson em relação à União Europeia também pesou sobre a libra, exacerbando a inflação que deve ultrapassar 11%.
O jornal Times of London disse que a “desonestidade em série” de Johnson é “totalmente corrosiva” para um governo eficaz.
“Cada dia que ele permanece aprofunda a sensação de caos”, afirmou o jornal. “Para o bem do país, ele deve ir.”
Uma pesquisa do YouGov descobriu que 69% dos britânicos achavam que Johnson deveria deixar o cargo de primeiro-ministro. Mas, por enquanto, o restante de sua principal equipe ministerial ofereceu apoio.
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Há um mês, Johnson sobreviveu a um voto de confiança de parlamentares conservadores, e as regras do partido significam que ele não pode enfrentar outro voto desse tipo por um ano. No entanto, alguns legisladores estão tentando mudar essas regras.
Se Johnson sair do cargo, o processo para substituí-lo poderia levar alguns meses.