Lar da maior população de elefantes do mundo, Botswana está prestes a regularizar a caça recreativa desses grandes mamíferos. A medida, que já foi aprovada pelo Parlamento, está provocando protestos de grupos de proteção animal. O governo alega haver um conflito crescente entre humanos e animais selvagens no país, informou a imprensa local nesta segunda-feira, 16.
Conservacionistas estimam que o país do sul da África tenha cerca de 130.000 elefantes vivendo na natureza, o que representa quase um terço da população desses animais em todo o continente.
O governo, por outro lado, diz que o número está mais próximo de 230.000 e que os animais estão causando problemas para os pequenos agricultores. Segundo as autoridades locais, o rendimento das culturas de milho no distrito de Chobe, onde fica a principal área de preservação, caiu 72% com as invasões de manadas em plantações.
O projeto de lei vai na contramão dos esforços internacionais para salvar os elefantes, trabalho que é liderado, principalmente, por ONGs britânicas. Essas entidades querem tornar mais rígidas as leis contra a comercialização do marfim, presente nas presas desses animais.
A grande concentração de elefantes em Botswana aconteceu devido, sobretudo, à perseguição a eles nos países vizinhos, como Namíbia e Angola, e à sua migração. Nesses territórios, o crescimento das cidades e o avanço das áreas ocupadas por humanos reduziram drasticamente o hábitat dos mamíferos gigantes.
Dentro de Botswana, a proteção legal e a presença de uma força-tarefa militar para defender as manadas dos caçadores ajudaram a preservar a espécie, transformando o país em um dos principais destinos turísticos para fazer safáris na vida selvagem.
A proibição da caça desses animais havia sido instituída em 2014 pelo então presidente Ian Khama, depois que pesquisas alertaram para um alarmante declínio das populações de elefantes selvagens na região.
O atual presidente, Mokgweetsi Masisi, é pessoalmente contra a proibição e está tentando reverter a medida. Konstantinos Markus, membro do Parlamento da parte noroeste do Botswana, muito rica em vida selvagem, explicou que as comunidades da região têm ficado hostis em relação aos animais por causa das invasões.
“Esta perda das colheitas deixa a comunidade com menos opções para cuidar de suas famílias”, disse Markus ao jornal britânico Daily Express. “As percepções [das pessoas] em relação à conservação da vida selvagem mudaram desde a proibição da caça.”
Cientista do grupo conservacionista Elephants Without Borders, Mike Chase, porém, explica que a reintrodução da caça recreativa teria pouco impacto sobre o número de elefantes e na destruição das plantações. Isso porque a preferência dos caçadores é por elefantes de grande porte, e a temporada de caças ocorre principalmente na época de seca. As invasões das plantações, por sua vez, acontecem quase sempre na estação chuvosa e são feitas, em sua maioria, por elefantes jovens ou por famílias inteiras.
“A variação no tempo, uso do espaço, idade e sexo dos elefantes sugerem que a caça terá um efeito limitado na resolução de conflitos entre humanos e esses animais”, disse Mike Chase à publicação.
Neste outono, o Reino Unido sediará uma cúpula global sobre crimes contra a vida selvagem e espera-se que a preservação dos elefantes no continente africano entre na agenda como uma das principais pautas.
Todos os dias, 100 elefantes são caçados na África por causa de suas presas. Um quilo de marfim vale cerca de 1.000 libras (aproximadamente 5.100 reais) no mercado ilegal.