O presidente Jair Bolsonaro assegurou nesta quarta-feira, 2, que o seu país e os Estados Unidos deixaram de ser “inimigos”, após se reunir em Brasília com o secretário de Estado americano, Mike Pompeo.
“Tem havido uma longa tradição no Brasil de eleger presidentes que por alguma razão eram inimigos” dos Estados Unidos, declarou Bolsonaro a jornalistas americanos que acompanhavam Pompeo, em uma clara referência aos governos dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff.
“Agora é o contrário, somos amigos”, comemorou o presidente, que busca estabelecer um eixo conservador com Estados Unidos e Israel. Bolsonaro recebeu o enviado de Donald Trump no Palácio do Planalto.
Mais cedo, Pompeo se reuniu com o novo ministro brasileiro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Os dois se comprometeram a construir uma “parceria mais intensa e muito mais elevada” e lutar juntos contra “regimes autoritários” como Cuba e Venezuela.
Contudo, provocado pela imprensa, o chanceler Araújo rejeitou a avaliação de que há tendência de alinhamento da política externa brasileira com a dos Estados Unidos no governo Bolsonaro. Conforme declarou, o Brasil fará “um alinhamento consigo mesmo, com o povo brasileiro”, e não com outros países.
“A relação entre os Estados Unidos e o Brasil é o resultado desse realinhamento (interno)”, afirmou. “O Brasil tem de se colocar como um país grande, que trabalha pelos ideais de seu povo e para gerar oportunidades para ele”, completou o chanceler.
Pacto de migração da ONU
De acordo com informações divulgadas pelo Palácio do Planalto, em seu encontro com Pompeo, Bolsonaro comunicou sua intenção de revogar a adesão do Brasil ao Pacto Global para Migração Segura, Ordenada e Regular da ONU.
A medida já havia sido anunciada previamente por Araújo, em dezembro. A decisão de sair do acordo está alinhada com a política empregada pelos Estados Unidos sob o comando de Donald Trump.
Segundo nota do Planalto, Bolsonaro tratou da agenda econômica brasileira e comunicou à Pompeo que sairá do acordo, “reafirmando a importância dos Estados Unidos para a inserção internacional do Brasil e sua intenção de trabalhar para que a relação entre os dois países possa se tornar ainda mais benéfica para ambas as partes”.
Os Estados Unidos foram um dos primeiros países a anunciar que não assinariam o pacto da ONU. Chile, Áustria, Hungria, Austrália, Eslováquia, Polônia e outros países europeus também decidiram se retirar do acordo internacional.
A resolução, aprovada oficialmente em dezembro, destaca princípios como a defesa dos direitos humanos e das crianças e enumera propostas para ajudar os países a enfrentar as ondas de migrações, como o intercâmbio de informação e de experiências e a integração dos deslocados.
As nações contrárias ao pacto, contudo, afirmam que o acordo representa perda de soberania e criticam a falta de distinção entre imigração legal e ilegal no rascunho do compromisso.
Venezuela
Pompeo e Bolsonaro também reiteraram, durante o encontro, sua preocupação com a crise na Venezuela. O presidente reafirmou o compromisso do Brasil com a estabilidade regional da América do Sul e com a grave situação do país vizinho.
O Planalto informou que Pompeo pediu ao presidente brasileiro para que ele coopere “ativamente” para resolver a crise na Venezuela.
Em sua reunião com Ernesto Araújo, o secretário americano também discutiu formas de apoiar os povos de Cuba, Venezuela e Nicarágua para “restaurarem sua governança democrática e os direitos humanos”, segundo o vice-porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Robert Palladino.
“Na Venezuela, em Cuba e na Nicarágua, as pessoas têm dificuldades para expressar suas opiniões e de contar com governos responsáveis por elas”, afirmou Pompeo na coletiva de imprensa após encontro com o chanceler brasileiro.
O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela respondeu às declarações do americano, e disse em comunicado que “rejeita categoricamente” a “atitude intervencionista” de Pompeo, acusando-o de buscar arregimentar apoio entre países latino-americanos para forçar uma “mudança de regime” da Venezuela.
Mais de três milhões de venezuelanos deixaram seu país desde 2015, segundo a ONU, fugindo da hiperinflação e escassez de alimentos e remédios. Países vizinhos como Brasil e Colômbia têm recebido a maioria dos imigrantes.
Os Estados Unidos impuseram sanções financeiras contra a Venezuela e algumas autoridades do governo socialista do presidente Nicolás Maduro, que Washington acusa de corrupção e violações dos direitos humanos. Maduro frequentemente culpa uma “guerra econômica” liderada por Washington pelos problemas do país.
(Com AFP, EFE e Reuters)