Brasil, Argentina, Austrália e outros países produtores de combustíveis fósseis e criadores de gado fizeram pressão por mudanças em um relatório-chave sobre mudança climática produzido pelas Organização das Nações Unidas (ONU), segundo documentos vazados nesta quinta-feira, 21, por investigadores do Greenpeace.
A poucos dias do início da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP26), a denúncia afirma que grandes produtores de petróleo e carvão, entre eles Austrália, Arábia Saudita, Irã e Japão, fizeram lobby para que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) retirasse do relatório suas recomendações sobre diminuição do uso de combustíveis fósseis. O vazamento também aponta que países exportadores de carne e lacticínios, como Brasil e Argentina, fizeram pressão para mudar trechos do documento que incentivam dietas vegetarianas.
O relatório em questão é produzido pelo grupo de trabalho III do IPCC como um importante guia sobre como proteger a Terra da mudança climática. Os documentos vazados pelo Greenpeace fazem parte de arquivos enviados por governo, empresas e outras partes interessadas aos pesquisadores encarregados de elaborar o parecer.
Antes de elaborar o relatório final, o IPCC divulga rascunhos do parecer para que pesquisadores e nações possam discutir as metas e recomendações propostas. Segundo a ONG, nos mais de 31.000 documentos obtidos, os países e empresas rejeitam as conclusões dos pesquisadores e pedem mudanças no rascunho do relatório distribuído pelo IPCC.
O governo australiano, por exemplo, solicitou ser retirado de uma lista de principais produtores e consumidores de carbono do mundo, sob o argumento de não utilizar tanto quanto outras nações, apesar de ter sido o quinto maior produtor do entre 2018 e 2021. Os documentos também mostram que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), cujos membros incluem Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria, Emirados Árabes Unidos e Venezuela, também apoiou a mudança das recomendações do relatório sobre combustíveis fósseis.
A versão final do relatório ainda não foi publicada. De acordo com o Greenpeace, os pesquisadores do IPPC não têm a obrigação de aceitar os comentários feitos pelos governos.
“Os autores do IPCC podem rejeitar e rejeitam as alterações sugeridas em seus rascunhos se os comentários não forem apoiados pela literatura científica. No entanto, o vazamento desses comentários oferece uma visão única das posições que estão sendo adotadas por algumas nações longe dos olhos do público”, diz o grupo de investigação do Greenpeace, Unearthed.
A COP26 será realizada no fim do mês em Glasgow, no Reino Unido. Durante a reunião, representantes de diversos países sentarão à mesa para para negociar medidas de enfrentamento à crise climática. As nações são encorajadas a fazer a sua parte para impedir que a temperatura global suba mais do que 1,5 ° C acima dos níveis pré-industriais, a fim de evitar danos mais sérios e irreversíveis ao planeta.