Ex-chanceler e assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Celso Amorim se reuniu em Kiev nesta quarta-feira, 10, com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, membros de seu gabinete e com o vice-ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrij Melnyk, que representou a pasta na ausência do chanceler Dmitro Kuleba, fora do país.
Apesar de a reunião ter sido a portas fechadas, Melnyk, que também é representante ucraniano para as Américas, ressaltou que “o Brasil pode desempenhar um papel importante para cessar a agressão russa e alcançar uma paz duradoura e justa”. Em publicação nas redes sociais, o vice-chanceler também citou o interesse em revigorar uma parceria estratégica selada em 2009, agradecendo em português ao final do texto com “Obrigado”.
O objetivo da viagem de Amorim à Ucrânia, reforçada pelo presidente Lula durante viagem a Londres na semana passada, era que o brasileiro ouvisse de Zelensky “quais são as principais exigências do governo ucraniano para dar início a negociações de paz”, segundo o Planalto. Ao mesmo tempo, o encontro tinha objetivo de reforçar “a intenção do governo brasileiro de facilitar processos que estabeleçam negociações pela paz na região” abalada pelo conflito com a Rússia, que segue desde fevereiro do ano passado.
Em abril, Amorim viajou à Rússia para um encontro com o presidente Vladimir Putin, que enviou seu chanceler, Sergei Lavrov, a Brasília pouco depois. Após reunião com o ministro Mauro Vieira, Lavrov afirmou que Brasil e Rússia têm “visões únicas” em relação ao que acontece no Leste Europeu.
Embora o Brasil tenha votado para condenar a invasão russa nas Nações Unidas em março, Lula sempre foi ambivalente sobre o conflito, ao mesmo tempo em que tenta colocar o país como um possível mediador ao conflito. Recentemente, ele sugeriu que a Ucrânia deveria considerar abrir mão da Crimeia para concretizar um acordo de paz e, em uma coletiva de imprensa no sábado 15, disse que os Estados Unidos e a Europa prolongam e encorajam a guerra na Ucrânia.
No Brasil, a abordagem da guerra na Ucrânia é vista como parte de uma longa tradição de neutralidade da política externa. Em um mundo altamente polarizado e muito diferente do que era nos dois primeiros mandatos de Lula, contudo, ser imparcial tem um preço cada vez mais alto.