Brasileiros são presos nos EUA por lavagem de dinheiro de coiotes
Casal lavava dinheiro de organização de contrabando de pessoas e transporte ilegal de imigrantes para os Estados Unidos
Um casal de brasileiros foi preso e está sendo acusado pela Justiça americana de lavagem de dinheiro para uma organização que fazia o transporte ilegal de imigrantes para os Estados Unidos.
Segundo as acusações, Eduardo Pereira e Marcia Tiago gerenciavam um esquema que lavou mais de 8 milhões de dólares (25,4 milhões de reais) provenientes do contrabando de pessoas. Os dois possuíam quatro empresas de fachada nos Estados Unidos, criadas para fazer circular os lucros da rede de coiotes.
A investigação sobre o caso foi conduzida pela Força-tarefa de Lavagem de Dinheiro do Condado de Broward, na Flórida. O mandado de prisão do casal, obtido por VEJA, indica que os dois estão respondendo por três acusações de lavagem de dinheiro e três por envolvimento em negócios não licenciados.
Pereira e Marcia são acusados de lavar 3,6 milhões de dólares em 2015, 4,5 milhões em 2016 e 170.000 em 2017 “por meio de pagamentos aparentemente inócuos por bens e serviços em uma tentativa adicional de esconder a fonte dos fundos ilícitos”, de acordo com o documento da polícia americana.
Os brasileiros mantinham cúmplices em empresas nas áreas de construção civil e limpeza para o processo de lavagem de dinheiro. O mandado de prisão da dupla detalha todas as operações ilícitas realizadas desde 2015 em território americano.
O casal foi preso em Miami na semana passada e na última terça-feira compareceu a uma audiência inicial, na qual a juíza responsável pelo caso, Mindy Glazer, determinou que eles poderiam ser transferidos para prisão domiciliar após o pagamento de 300.000 dólares (950.000 reais) de fiança cada um.
Contrabando de pessoas
A organização para qual o casal trabalhava era comandada por um outro brasileiro, Vantuir De Sousa, que já está em prisão domiciliar no Brasil pelos crimes de contrabando de pessoas e transporte ilegal de pessoas para os Estados Unidos.
Sousa e sua gangue costumam levar os imigrantes, a maioria deles brasileiros, de barco do Caribe até o sul da Flórida. De lá, os passageiros eram transportados, também ilegalmente, para a região de Nova Jersey ou Pensilvânia.
Segundo a polícia americana, o ponto de partido escolhido era o Caribe porque brasileiros não precisam de visto para visitar as ilhas da região. A organização cobrava entre 15.000 e 20.000 dólares para fazer o trabalho de transporte ilegal.
Segundo os documentos obtidos pela reportagem, o grupo de coiotes comandado por Sousa levava mais de 5.000 pessoas por ano para os Estados Unidos ilegalmente.
A organização também era responsável por uma embarcação que se perdeu no mar em novembro de 2016. Dois capitães do barco e pelo menos 17 pessoas que buscavam entrar ilegalmente em território americano ainda estão desaparecidas e são consideradas mortas pelas autoridades.
Além de Sousa, Pereira e Marcia, outros dois brasileiros estão sendo investigados por envolvimento no esquema: a mulher de Vantuir, Adriana Prokop, e Weliton Santos, dono de uma empresa de serviços de limpeza em Nova Jersey.
O casal acusado de lavagem de dinheiro participará de uma nova audiência de julgamento em 22 de fevereiro em Miami. Segundo o Consulado brasileiro na cidade, nenhum dos dois procurou assistência consular até agora.
As autoridades brasileiras se negaram a fornecer mais informações sobre o caso ou sobre a situação do casal nos Estados Unidos e se limitaram a dizer que estão “acompanhando a prisão dos brasileiros, a exemplo do que é feito nas situações envolvendo detenção de nacionais”.