Entre os motivos que levaram os britânicos a votar por sair da União Europeia (UE) no referendo de 2016 estavam o de devolver a soberania ao Parlamento em Londres, reduzir o fluxo de imigrantes, combater o terrorismo e melhorar o serviço de saúde pública. No acerto de quinze páginas feito entre a primeira-ministra Theresa May e os negociadores da UE, poucas dessas pendências apareceram. Com uma maioria fugaz no Parlamento, May teve de abandonar a ideia de fazer um Brexit “duro” e realizou diversas concessões. “A maior parte das pessoas não votou por este resultado”, diz o cientista político inglês Simon Usherwood, da Universidade de Surrey. “A questão é que muitas promessas feitas antes do referendo, de ambos os lados, foram de gente que não estava na posição de realizá-las.”
No tema da imigração, May aceitou preservar os direitos de 3 milhões de cidadãos que nasceram em outros países da UE e vivem e trabalham na Inglaterra. Eles só precisarão preencher um formulário com seis a oito perguntas e pagar uma taxa equivalente a 317 reais, o mesmo montante que desembolsam quando precisam de um novo passaporte.
Para não desagradar o minúsculo Partido Democrático Unionista da Irlanda do Norte (DUP), do qual May depende do apoio, não haverá uma barreira entre a Irlanda do Norte (que faz parte do Reino Unido) e a República da Irlanda. Mais do que isso, os ingleses se comprometeram a aceitar as principais diretrizes econômicas do mercado comum se um futuro acordo de comércio não for fechado. May ainda teve de concordar em pagar uma multa de 40 bilhões de euros, que será parcelada ao longo de vários anos. O valor é o dobro do que ela tinha aventado antes.
Se fosse para isso, será que os ingleses teriam votado pelo Brexit em 2016? A primeira-ministra tem o mérito de ter garantido que um acordo será feito para que a Inglaterra deixe o bloco europeu em março de 2019. “A maior parte do público parece desinteressada com os detalhes do acordo. Como resultado, isso dá muita flexibilidade aos políticos, a qual eles parecem estar usando principalmente nas discussões entre eles”, diz Usherwood.
Contudo, ao fazer o único acordo possível — e não o que estava na cabeça dos eleitores — May pode estar arriscando o seu futuro político.