A Câmara de Representantes dos Estados Unidos admitiu formalmente, nesta terça-feira 29, por ampla maioria, a ocorrência do “genocídio armênio“, durante votação que provocou aplausos no plenário, em meio ao aumento das tensões entre Washington e Ancara.
A resolução, aprovada por 405 votos contra 11, convoca a “lembrar o genocídio armênio”, a “rejeitar as tentativas (…) de associar o governo americano à negação do genocídio armênio” e a educar sobre estes fatos.
Foi a primeira vez que uma resolução sobre este tema foi submetida a uma votação em plenário em uma das Casas do Congresso americano.
Trinta países e a maioria dos historiadores reconhecem o genocídio armênio. Segundo estimativas, entre 1,2 milhão e 1,5 milhão de armênios morreram na Primeira Guerra Mundial nas mãos de tropas do Império Otomano, então aliado da Alemanha e do Império austro-húngaro.
A Turquia, herdeira política do Império Otomano, repudia o uso da palavra “genocídio” e fala de massacres recíprocos em um contexto de guerra civil e fome, que deixou centenas de milhares de mortos entre turcos e armênios.
Em Ancara, o governo turco rejeitou energicamente a posição dos deputados americanos, um gesto que definiu como um “passo político sem sentido” em um momento de “extrema fragilidade” no campo da segurança.
“Como um passo político sem sentido, orienta-se unicamente ao lobby armênio e aos grupos anti-Turquia”, destacou a chancelaria turca em nota oficial para expressar a esperança de que os responsáveis pela decisão “sejam julgados pela consciência do povo americano”.
Já o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, elogiou a decisão, que qualificou de “passo valente em direção à verdade e à justiça histórica, que também oferece consolo aos milhões de descendentes dos sobreviventes do genocídio”.
Em abril de 2017, pouco depois de assumir a Casa Branca, o presidente Donald Trump definiu o massacre dos armênios, em 1915, como “uma das piores atrocidades de massa do século XX”, embora tenha evitado usar a palavra “genocídio”. Ancara demonstrou sua inconformidade na ocasião e criticou a “desinformação” do presidente americano.
Antes de ser eleito em 2008, seu antecessor, Barack Obama tinha se comprometido a reconhecer o genocídio, embora não o tenha feito em seus dois mandatos na Presidência.
A votação da Câmara baixa chega em um momento de relações tensas entre os Estados Unidos e a Turquia, aliados na Otan, que acabam de viver novos encontrões.
O presidente Trump deixou a via livre para uma ofensiva turca na Síria contra combatentes curdos – aliados dos Estados Unidos na luta contra o jihadismo -, ao retirar as forças americanas do norte do país no começo de outubro.
Mas, diante das críticas suscitadas por esta decisão nos Estados Unidos, o governo Trump anunciou medidas de punição contra a Turquia, antes de anulá-las a partir de um cessar-fogo negociado com Ancara.