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Cardeal será julgado na Austrália por abuso sexual de crianças

Religioso alegou "inocência" e pagou fiança para responder em liberdade; advogado de defesa atacou a credibilidade das vítimas

Por Da Redação
Atualizado em 30 jul 2020, 20h21 - Publicado em 1 Maio 2018, 11h42

A Justiça australiana decidiu nesta terça feira (1º) que o cardeal australiano George Pell, terceiro na hierarquia do Vaticano, será julgado por abuso sexual por um tribunal de Melbourne. O religioso de 76 anos era um dos conselheiros do Papa Francisco, em Roma, e presidia o Departamento de Economia do Vaticano desde 2013.

Pell será o mais alto representante da Igreja Católica a responder à Justiça, como réu, por agressões sexuais. Sob o comando do Papa Francisco, a Igreja deixou de proteger sacerdotes acusados por esse e outros crimes. Em comunicado, o Vaticano se disse ciente “da decisão anunciada pelas autoridades judiciais da Austrália“.

A decisão de levá-lo a julgamento foi tomada pela juíza Belinda Wallington, ao final de um mês de audiências. Pell ingressou na corte sob forte proteção policial para a audiência final, de hoje. Permaneceu impassível e declarou-se “inocente”, ao ser perguntado pela magistrada como se colocava diante das acusações.

Ele deixou o tribunal em liberdade, depois de ter pago fiança. Mas está proibido de deixar a Austrália e já entregou seu passaporte às autoridades.

O cardeal fora acusado à Justiça no final de julho do ano passado. Desligou-se de suas funções em Roma e voltou à Austrália para preparar sua defesa, conduzida por um dos melhores criminalistas do país, Robert Richter.

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Segundo o jornal americano Washington Post, Pell é acusado por tocar as genitais de dois meninos em uma piscina da cidade de Ballarat nos anos 1970.  Ballarat, no Estado de Victoria, é a cidade natal de Pell e o local onde serviu em seus primeiros anos como sacerdote.

Também responde por ter atacado dois menores integrantes do coral da Catedral de São Patrício, em Melbourne, onde foi arcebispo nos anos 1990. A juíza Belinda, porém, rejeitou algumas das mais graves acusações contra o cardeal, que haviam sido investigadas pela polícia de Victoria.

O fato de seus supostos crimes terem tido crianças como vítimas fez com que a maioria dos detalhes dos casos fossem omitidos durante a audiência final, que se deu em um tribunal fechado ao público.

Pell admitiu que “falhou” em sua abordagem sobre casos de padres pedófilos no Estado de Victoria durante os anos 1970. Ele é tido como uma das autoridades da Igreja que preferiram ocultar os casos e afastá-lo da possibilidade de julgamento pela Justiça comum.

Richter, advogado do cardeal, tentou durante a audiência levantar dúvidas sobre a credibilidade das vítimas – uma das velhas táticas de defesa. Conforme declarou, as acusações “são fruto de problemas mentais, fantasias ou pura invenção, com o objetivo de castigar o representante da Igreja católica neste país por não ter impedido as agressões de pedofilia cometidas por outros”.

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O advogado ainda insistiu ter Pell colaborado plenamente com a polícia do Estado de Victoria e retornado voluntariamente à Austrália para defender-se.

O escândalo provocou grande comoção na Austrália. O anúncio do julgamento de Pell coincide com o final dos cinco anos de uma investigação nacional, conduzida pelo governo, sobre abusos sexuais cometidos contra crianças. A investigação foi resultado de uma década de protestos por parte das vítimas.

A conclusão foi de que houve mais queixas contra a Igreja do que contra outras instituições, segundo o Washington Post. Em Ballarat, 140 pessoas se declararam vítimas de abuso sexual entre 1980 e 2015.

Com uma carreira brilhante na hierarquia da Igreja, Pell foi ordenado padre em 1966. Trinta anos depois, foi nomeado arcebispo de Melbourne e, em 2001, de Sydney. Os representantes da Igreja na Austrália o apoiam e o qualificam como de um homem “decente”.

(Com EFE)

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