Casa Branca intensifica a guerra contra a imprensa americana
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tenta intimidar a imprensa, barrando jornalistas em coletiva na sede do governo
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nunca manteve uma relação amigável com a imprensa americana e, nessa sexta-feira, a Casa Branca mostrou que o mandato do republicano pode ser marcado não só por críticas mas também por retaliações e intimidações aos principais veículos de comunicação do país. A pressão aumentou com a cobertura intensiva sobre a relação da cúpula da campanha – e do próprio magnata – com a Rússia.
As acusações de “notícias falsas”, resposta à qual o republicano recorre diante do noticiário negativo sobre seu governo, foram repetidas em seu discurso na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), o principal encontro dos republicanos nos EUA, quando Trump também se referiu aos jornalistas como “inimigos do povo”.
Mais tarde, na entrevista coletiva do Casa Branca, Sean Spicer, repórteres de veículos como The New York Times, BuzzFeed News, CNN, Los Angeles Times, Politico, BBC e Huffington Post foram barrados na entrada da sala onde ocorreria o evento. Ainda na sexta-feira, o presidente americano recorreu à sua rede social favorita, o Twitter, para afirmar que a imprensa “não conta a verdade” e representa “um grande perigo ao nosso país”.
“Isso nunca aconteceu antes na Casa Branca em nossa longa história de cobertura de vários mandatos, de diferentes partidos”, disse Dean Baquet, editor-executivo do NYT. “Livre acesso da imprensa a um governo transparente é, obviamente, um interesse nacional fundamental”.
Desavenças entre Casa Branca e imprensa não são novidade. A administração Obama era duramente criticada por bater de frente com a rede Fox News, uma das mais conservadoras dos Estados Unidos. Em 2009, a Casa Branca ameaçou impedir que repórteres da emissora entrevistassem um recém-empossado membro do governo. Em resposta à tentativa de barrar os jornalistas, executivos das redes ABC, CNN, CBS e NBC ameaçaram boicotar a entrevista se os colegas não fossem autorizados a participar.
Revide
O porta-voz Spicer afirmou a um pequeno grupo de jornalistas que a Casa Branca será implacável em rebater notícias que considerar imprecisas. “Vamos revidar agressivamente”, disse, de acordo com uma gravação oferecida por um repórter.
A artilharia fortemente voltada para a imprensa é um contrassenso em um país que se orgulha de defender a liberdade de expressão e a imprensa livre. Trump critica os jornalistas por reportarem informações de fontes anônimas do FBI, que ele alega serem fictícios, sobre a relação de seu governo com a Rússia. Ao pedir a quebra dos sigilos das fontes jornalísticas – e puni-las pelos vazamentos -, o presidente americano ataca um dos pilares da liberdade de imprensa.
O Comitê de Proteção aos Jornalistas, ONG sediada em Nova York acostumada a defender o direito da imprensa em ditaduras, divulgou um comunicado sobre as ofensivas do governo americano contra a mídia. “Não é função dos líderes políticos determinar como os jornalistas devem conduzir seus trabalhos”, disse o diretor do grupo, Joel Simon. “Os Estados Unidos deveriam estar promovendo a liberdade de imprensa e o acesso à informação. E não dando um péssimo exemplo para o resto do mundo.”