Brian Murphy, ex-funcionário encarregado de inteligência no Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos afirmou ao Comitê de Inteligência da Câmara dos Deputados que foi pressionado a abandonar a busca de informações sobre a interferência russa nas eleições presidenciais de novembro, além de minimizar a ameaça de grupos supremacistas brancos no país, com o objetivo de que esses relatórios combinassem com a retórica do presidente Donald Trump.
Murphy declarou que, em maio, o secretário interino de Segurança Nacional, Chad Wolf, ordenou que ele parasse de reunir informações sobre a ameaça que Moscou poderia representar para os Estados Unidos e começasse a escrever relatórios sobre as atividades da China e do Irã. De acordo com o ex-funcionário, Wolf deixou claro que essas eram ordens do conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Robert O’Brien.
Já em março, Murphy recebeu ordem para emendar um relatório que destacava a ameaça dos supremacistas brancos e foi solicitado a minimizar sua importância, bem como a incluir informações sobre supostos grandes grupos violentos de esquerda. Nesse caso, a diretriz foi emitida pelo diretor dos Serviços de Cidadania e Imigração dos Estados Unidos (USCIS), Ken Cuccinelli, que serve como um segundo homem-forte para o Departamento de Segurança Nacional.
Tanto Cuccinelli quanto Wolf argumentaram que os relatórios deveriam ser modificados para garantir que estivessem de acordo com os comentários de Trump, que acusou o movimento anarquista AntiFa de estar por trás das manifestações antirracistas que abalaram as principais cidades do país nos últimos meses.
A Casa Branca e o Departamento de Segurança Nacional negaram as acusações de Murphy. Durante sua presidência, Trump se recusou a acreditar que Moscou interferiu nas eleições de 2016, algo que os serviços de inteligência americanos investigaram e Moscou nega.
Nova eleição, nova interferência
As eleições presidenciais de 2016, que levaram Trump ao Salão Oval, foram marcadas por campanhas online ligadas aos russos em favor do republicano. Apesar de investigações comandadas pelo Departamento de Justiça americano terem concluído que Trump não esteve envolvido no esquema de Moscou, pessoas próximas ao presidente foram presas e julgadas. Agora, em 2020, a história começa a se repetir.
No dia 3 de agosto, senadores democratas pressionaram o Departamento do Tesouro para que aplicasse sanções contra pessoas e entidades russas, alegando que Moscou realizava campanhas online para prejudicar o ex-vice-presidente Joe Biden, que concorre ao cargo.
“Já é hora de o governo enviar uma mensagem direta ao presidente (Vladimir) Putin: Estados Unidos responderá imediata e energicamente à permanente interferência eleitoral”, diz a carta dos senadores enviada a Steve Munnichin, secretário do Departamento de Tesouro do país.
“Não existe virtualmente outra ameaça à segurança nacional do que aqueles que querem prejudicar a confiança, a efetiva realização de nossas eleições democráticas”, escreveram dois dias após no Facebook, usando informações do FBI, que afirma ter derrubado uma campanha ligada à Rússia por violar a política do site contra “interferência estrangeira”.
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Clique e AssineA campanha, ainda em seus estágios iniciais, continha uma pequena rede de 13 contas e duas páginas na rede social que se passavam por jornalistas e tinham como alvo progressistas da esquerda americana.
A rede estava em estágio inicial de construção de uma audiência, com pouco engajamento dos usuários. “Eles colocaram um esforço substancial na criação de elaboradas personas fictícias, tentando fazer contas falsas parecerem o mais reais possível”, disse Nathaniel Gleicher, chefe de políticas de segurança do Facebook.
Entre os assuntos abordados pelo grupo em suas publicações, segundo o Facebook, estavam racismo nos Estados Unidos, governo Trump, geopolítica americana, a pandemia de Covid-19, o movimento conspiratório QAnon e a União Europeia.
As fotos ds perfis falsos foram geradas usando um software de computador, para parecerem mais realistas. Escritores contratados, sem saberem para quem estavam trabalhando, foram recrutados para escrever o material a ser postado online.
(Com EFE e AFP)