O pronunciamento de Carles Puigdemont, presidente do governo da Catalunha, ao Parlamento nesta terça-feira foi antecedido por muita expectativa – primeiro, pela promessa de que ele declararia a independência catalã e, depois, pela dúvida sobre se manteria o prometido ou voltaria atrás e abria espaço para o diálogo.
O que se viu, no entanto, foi um discurso confuso que deu margem para ambas as interpretações. Puigdemont anunciou a independência, mas em seguida pediu ao Parlamento que suspendesse a declaração por algumas semanas.
O governo espanhol chegou a afirmar, sobre o fala do presidente catalão, que considera “inadmissível fazer uma declaração implícita de independência e depois suspendê-la explicitamente”, segundo informou o jornal La Vanguardia.
Em seu discurso, que foi motivo de amplas discussões entre figuras do governo catalão até o último momento, Puigdemont falou também sobre o Estatuto de Autonomia, de 2005, condenou as cenas de violência que marcaram o referendo do dia 1º de outubro e defendeu a democracia e a paz.
Confira os principais trechos do pronunciamento:
- “Nós nunca concordaremos com tudo, mas entendemos que o caminho a seguir não pode ser outro que o da democracia e da paz.”
- “A Catalunha realizou um referendo de autodeterminação em condições extremas, em meio a ataques contra pessoas que estavam em filas para depositar o voto.”
- “As imagens do 1º outubro ficarão em nossa memória para sempre, nunca vamos nos esquecer.”
- “Todos devemos assumir nossa responsabilidade para diminuir as tensões. Não contribuirei com palavras e nem com gestos para aumentá-las.”
- “Milhões de cidadãos chegaram à conclusão racional que a única forma de garantir a convivência é que a Catalunha se constitua em um Estado”.
- “As demandas catalãs sempre, sempre foram expressas de forma pacífica e a partir das maiorias conquistadas nas urnas”.
- “Em 2005, 88% deste Parlamento, seguindo os procedimentos estabelecidos pela Constituição, aprovou uma proposta de Estatuto de Autonomia que levou a uma grande campanha de catalanofobia. ”
- “Desde a morte de Franco, a Catalunha tem sido o motor econômico da Espanha e um fator de modernização e estabilidade.”
- “Do ponto de vista do autogoverno, os últimos sete anos foram os piores das últimas quatro décadas. Houve um corte de capacidades e um menosprezo assustador contra a língua, a cultura e o modo de viver na Catalunha”.
- “Não somos delinquentes, não somos loucos, não somos alienados e nem golpistas. Somos pessoas normais, que queremos nos expressar”.
- “Não temos nada contra a Espanha e nem contra os espanhóis. Pelo contrário, queremos melhorar a relação. Hoje em dia, a relação não funciona”.
- “As urnas disseram ‘sim’ à independência, e este é o caminho que estou disposto a percorrer”.
- “O que comunico hoje não é uma vontade pessoal, é resultado do 1º de outubro.”
- “Assumo o mandato do povo para que a Catalunha seja um Estado independente.”
- “Peço ao Parlamento que suspenda a declaração de independência para iniciar um diálogo nas próximas semanas.”