Catar acusa Netanyahu de obstruir esforços para mediar cessar-fogo em Gaza
Mal-estar segue divulgação de suposta gravação vazada de premiê israelense
O Catar acusou na quarta-feira, 24, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de obstruir os esforços de mediação do conflito em Gaza e de priorizar sua carreira, depois de uma gravação vazada supostamente mostrá-lo chamando o país do Golfo de “problemático”.
Na rede social X, antigo Twitter, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores catari, Majed Al Ansari, disse que “se estas declarações tiverem veracidade comprovada, o premiê israelense estará apenas obstruindo e prejudicando o processo de mediação, por razões que parecem servir a sua carreira política ao invés de priorizar salvar vidas inocentes, incluindo reféns israelenses”.
Na publicação, disse ainda que as declarações, se comprovadas, “são irresponsáveis e destrutivas aos esforços de salvar vidas inocentes, mas não são uma surpresa”.
Importante mediador entre ambos lados do conflito no Oriente Médio, a nação árabe foi crucial para o acordo de trégua temporária que levou à libertação de mais de 100 reféns do Hamas. Apesar do apoio diplomático, o emir do Catar, xeque Tamim bin Hamad al-Thani, descreveu a campanha militar de Israel em Gaza como um “genocídio” e disse ser “uma vergonha” para a comunidade internacional permitir que o conflito continue.
A gravação
Em gravação que vazou de uma reunião com famílias de reféns e foi ao ar na TV israelense na terça-feira, Netanyahu chamou o Catar de “problemático. Netanyahu supostamente disse:
“Você não me viu agradecer ao Catar, notou? Não agradeci ao Catar. Por que? Porque o Catar, para mim, não é essencialmente diferente da ONU, da Cruz Vermelha e de certa forma é ainda mais problemático. No entanto, estou disposto a recorrer a qualquer mediador que possa me ajudar a trazê-los [os reféns] para casa”, teria dito.
Netanyahu não se pronunciou publicamente sobre a gravação, mas uma autoridade israelense afirmou à rede americana CNN que “Israel trabalha com o Catar como mediador do Hamas para a libertação dos reféns, devido aos seus laços estreitos com esta organização terrorista assassina. Israel está bem ciente da complexidade envolvida”.
Novo cessar-fogo
O mal-estar entre Catar e Israel se dá em meio a relatos de avanços rumo a um acordo para implementar cessar-fogo de 30 dias na Faixa de Gaza. As informações foram divulgadas pela agência de notícias Reuters na quarta-feira, 24, citando fontes próximas às negociações.
No novo acordo, reféns israelenses e palestinos detidos em Israel seriam libertados e seria permitida a entrada de mais alimentos e suprimentos médicos no enclave. O Catar, os Estados Unidos e o Egito, há semanas, têm mediado contatos entre Israel e o grupo que governa Gaza, buscando termos para uma pausa nos combates.
Em atividade diplomática intensa, o Catar disse na terça-feira que “recebe um fluxo constante de respostas de ambos os lados, o que, por si só, é motivo de otimismo”. O enviado dos Estados Unidos para o Oriente Médio, Brett McGurk, se encontra em Doha, onde vai participar de discussões “ativas”, disse a Casa Branca. Mais de 130 reféns israelenses ainda estão detidos em Gaza.
Contudo, os dois lados continuam em desacordo sobre como chegar a um acordo de paz e acabar permanentemente com a guerra. De acordo com a Reuters, o Hamas insiste que esses termos devem ser incluídos em qualquer acordo de cessar-fogo. Já o porta-voz do governo israelense, Eylon Levy, disse na terça-feira que não haveria trégua se o Hamas continuasse no poder. Os Estados Unidos, maiores aliados de Israel, também defendem que o futuro governo de Gaza não poderia incluir líderes do Hamas.