CIA alertou Bolsonaro para não questionar eleição no Brasil, diz agência
Há temores de que Bolsonaro siga o exemplo de Donald Trump e use discurso de fraude eleitoral para rejeitar uma possível derrota
O diretor da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), William Burns, alertou no ano passado os membros do gabinete de Jair Bolsonaro que eles e o presidente deveriam parar de questionar o sistema eleitoral do Brasil quanto às eleições de outubro.
Segundo investigação da agência de notícias internacional Reuters, Burns fez uma reunião secreta com o gabinete em julho passado. A delegação liderada por Burns teria dito aos principais assessores de Bolsonaro que o presidente deveria parar de minar a confiança no sistema eleitoral do país.
O diretor da CIA é o funcionário da Casa Branca de mais alto escalão a reunir-se com o governo Bolsonaro desde a eleição do presidente americano, Joe Biden. Ele chegou a Brasília seis meses após o ataque ao Capitólio nos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021, depois da derrota eleitoral do ex-presidente Donald Trump.
Ecoando Trump, Bolsonaro também fez alegações infundadas de fraude eleitoral por causa das urnas eletrônicas. Isso levantou temores de que o atual líder brasileiro, que está atrás do ex-presidente Lula nas pesquisas de opinião, esteja tentando seguir o exemplo de Trump e use o discurso de fraude para rejeitar uma possível derrota nas eleições, marcadas para 2 de outubro.
Bolsonaro já flertou com a ideia de não aceitar os resultados eleitorais diversas vezes, além de atacar repetidamente o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na semana passada, o presidente sugeriu que os militares deveriam realizar sua própria contagem de votos, em paralelo à do tribunal.
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Durante a viagem não divulgada, Burns, diplomata de carreira indicado por Biden no ano passado, se encontrou no Palácio da Alvorada com o líder brasileiro e dois assessores de inteligência – o conselheiro de segurança nacional, Augusto Heleno, e o então chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem. Ambos foram indicados por Bolsonaro.
Burns também jantou na residência do embaixador dos Estados Unidos com Heleno e o então chefe de gabinete de Bolsonaro, Luiz Eduardo Ramos. No jantar, segundo a Reuters, Heleno e Ramos procuraram minimizar as alegações sobre fraude eleitoral, mas Burns disse a eles que o processo democrático era sagrado e que Bolsonaro não deveria falar isso em nenhuma circunstância.
“Burns estava deixando claro que as eleições não eram um assunto com o qual eles deveriam mexer”, disse à Reuters uma fonte, que falou sob condição de anonimato.
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É incomum que diretores da CIA entreguem mensagens políticas, mas Biden transformou Burns em uma espécie de porta-voz discreto da Casa Branca. Ele inclusive foi a Moscou para conversar diretamente com o presidente russo, Vladimir Putin, sobre a guerra na Ucrânia.
Um mês após a visita de Burns a Brasília, o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, reuniu-se com Bolsonaro para conversar sobre o mesmo assunto. Em comunicado, o Departamento de Estado americano disse que “é importante que os brasileiros tenham confiança em seus sistemas eleitorais”.
Por enquanto, essas mensagens e alertas ainda são carregadas por milhares de quilômetros, porque Biden e Bolsonaro não ainda se falaram desde que o americano foi eleito. Durante a corrida à Casa Branca em 2020, os dois entraram em conflito devido às políticas ambientais em vigor no Brasil e as queimadas na Amazônia.
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Neste ano, o TSE orquestrou uma série de missões de observação internacional para acompanhar o processo eleitoral. É a primeira vez que diversos órgãos de localidades diferentes participarão simultaneamente do pleito brasileiro.
Até o momento, estão confirmadas as presenças de representantes das missões de observação eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA), que já enviaram observadores para as eleições realizadas em 2018 e em 2020; do Parlamento do Mercosul (Parlasul), órgão que representa os interesses das cidadãs e dos cidadãos das nações que compõem o Mercosul; e da Rede Eleitoral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Ainda estão em negociação o formato e a composição de cada uma dessas missões.
Além dessas três missões internacionais, o TSE negocia a vinda de representantes das organizações norte-americanas Carter Center e International Foundation for Electoral Systems (Ifes), da Unión Interamericana de Organismos Electorales (Uniore) e da Rede Mundial de Justiça Eleitoral.