Chefes do exército são traidores, diz líder da milícia russa Wagner
Expondo rixas internas no Kremlin, Yevgeny Prigozhin afirmou que Moscou se recusa a fornecer suprimentos aos seus mercenários na Ucrânia
Yevgeny Prigozhin, chefe do grupo mercenário russo Wagner, disse nesta terça-feira 21 que os chefes do exército de Moscou estão se recusando a fornecer munições aos seus combatentes para tentar destruir a organização, acusando-os de “traição”. O recado representa um acirramento das divisões entre altos funcionários do governo e o exército privado do presidente Vladimir Putin.
A milícia de Prigozhin, que recrutou mercenários em prisões em toda a Rússia para reforçar suas unidades, teve um papel fundamental na captura da cidade de Soledar, no leste da Ucrânia, e no atual cerco à vizinha Bakhmut. Embora o Kremlin negue qualquer embate, as tensões entre o grupo Wagner e o exército russo parecem mais altas que nunca.
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“O chefe do Estado-Maior [de Moscou] e o ministro da Defesa dão ordens a torto e a direito não apenas para não dar munição à companhia militar privada Wagner, mas também para não ajudá-la com o transporte aéreo”, disse Prigozhin em uma mensagem de voz compartilhada por seu serviço de imprensa na terça-feira. Ele também acusou o alto comando militar de ter proibido a entrega de pás para seus mercenários cavarem trincheiras.
“Existe uma oposição direta, uma tentativa de destruir a Wagner. Isso pode ser equiparado a alta traição”, acrescentou.
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Anteriormente, Prigozhin já havia criticado o exército regular da Rússia na Ucrânia, apontando para sua “burocracia monstruosa” como motivo dos reveses militares de Moscou. Ele também acusou o exército russo de tentar “roubar” as vitórias do grupo mercenário.
O Ministério da Defesa da Rússia negou limitar o envio de munição a voluntários no front, mas não mencionou o grupo Wagner ou as acusações de Prigozhin.
“Todos os pedidos de munição para unidades de assalto são atendidos o mais rápido possível”, insistiu, prometendo novas entregas no sábado, 25, e denunciando como “absolutamente falsos” os relatos de escassez.
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“As tentativas de criar uma divisão dentro do estreito mecanismo de interação e apoio entre as unidades dos combatentes russos são contraproducentes e funcionam apenas para o benefício do inimigo”, disse a pasta em comunicado.
Prigozhin assumiu um papel mais público desde o início da guerra. O grupo Wagner ainda lidera a batalha por Bakhmut, mas suas relações com Moscou estão claramente se deteriorando. Neste ano, o chefe da milícia perdeu o direito de recrutar prisioneiros, e houve alguns sinais de que o Kremlin está tentando conter sua influência.
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Em um discurso na terça-feira, Putin pareceu abordar a luta interna.
“Devemos nos livrar de quaisquer contradições interdepartamentais, formalidades, rancores, mal-entendidos e outras bobagens”, disse ele à elite política e militar da Rússia.
Já Prigozhin disse que ocupado demais para assistir ao discurso e, portanto, não poderia tecer comentários sobre as falas do presidente.