A China elevou o tom com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) nesta quinta-feira, 11, após a aliança militar ocidental, em comunicado final da sua cúpula anual nos Estados Unidos, acusar Pequim de ser uma “facilitadora decisiva” da guerra na Ucrânia devido à sua parceria com a Rússia. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian, rejeitou o rótulo, alegou que a Otan busca segurança “à custa dos outros” e alertou para que o grupo não leve o mesmo “caos” à Ásia.
“A acusação da Otan sobre a responsabilidade da China na questão da Ucrânia não é razoável e tem motivos sinistros”, disse Lin em um briefing diário. Ele sustentou que Pequim tem uma posição “justa e objetiva” sobre a guerra.
O governo chinês foi na contramão dos Estados Unidos e seus aliados europeus ao recusar-se a condenar a invasão da Rússia. Seu comércio com Moscou cresceu desde a invasão, compensando – pelo menos parcialmente – o impacto das sanções ocidentais. No mesmo briefing, Lin garantiu que as relações econômicas entre os dois países são legítimas e baseadas nas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).
O porta-voz do ministério também afirmou que a “chamada segurança” da Otan ocorre às custas da segurança de outros países, e apoiou a narrativa da Rússia de que a expansão da aliança ocidental representa uma ameaça existencial para a nação.
“A China insta a Otan a parar de interferir na nossa política interna e de manchar nossa imagem da China, bem como a não criar o caos na região Ásia-Pacífico depois de criar turbulência na Europa”, completou Lin.
“Séria ameaça”
A reação veemente do governo chinês ocorre após o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, classificar de “séria ameaça” a instalação de sistemas de mísseis de longo alcance dos Estados Unidos na Alemanha a partir de 2026. Segundo o Pentágono, o objetivo é aumentar a proteção do flanco leste da aliança militar ocidental.
A medida foi anunciada na quarta-feira 10, em paralelo à divulgação de que a segunda base do sistema de defesa antimísseis Aegis Ashore no Leste Europeu, na Polônia, entrou em operação. A Rússia vê tal instalação como ofensiva, dado que na teoria mísseis de ataque podem ser lançados por ela também.
“Sem nervos, sem emoções, nós vamos desenvolver uma resposta militar, antes de tudo, a esse novo jogo”, afirmou o vice-chanceler Serguei Riabkov, principal negociador nuclear do presidente russo, Vladimir Putin, à agência Interfax.
Já o ex-presidente russo Dmitri Medvedev defendeu que Moscou busque o “desaparecimento da Ucrânia e da Otan”.
Cúpula da Otan
No comunicado final do encontro de líderes da aliança ocidental, a relação entre China e Rússia foi descrita como fonte de “profunda preocupação” – a repreensão mais séria contra Pequim por parte do grupo. O texto foi aprovado pelos 32 Estados-membros, e destaca ainda apreensão em relação ao arsenal nuclear chinês e as suas tecnologias espaciais.
O documento instou a China “a cessar todo o apoio material e político ao esforço de guerra da Rússia”, acrescentando que Pequim se tornou um apoiador importante da “base industrial de defesa” do país em guerra. “Isso inclui a transferência de materiais de dupla utilização, tais como componentes de armas, equipamentos e matérias-primas que servem como insumos para o setor de defesa da Rússia”, afirmou a declaração.
A missão de Pequim na União Europeia disparou que a cúpula nos Estados Unidos estava “cheia de mentalidade de guerra fria e retórica beligerante”.
“Os parágrafos relacionados com a China são provocativos, com mentiras e difamações óbvias”, afirmou a missão em comunicado.
Tensões à flor da pele
A declaração da Otan ocorreu no momento em que líderes da Austrália, Japão, Nova Zelândia e Coreia do Sul se preparavam para participar das negociações de cúpula na quinta-feira. Será o terceiro ano consecutivo que os líderes da região Ásia-Pacífico se reúnem no evento.
Também ocorreu após, nesta semana, o Exército chinês ter realizado exercícios militares conjuntos em Belarus, outro aliado de Putin. A vizinha Polônia, membro da Otan, disse estar prestando muita atenção na iniciativa. Pequim já realizou exercícios conjuntos com Minsk, embora estes sejam os primeiros desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022.