Com um ano de governo, presidente do Peru luta por sobrevivência política
Pedro Castillo está imerso em acusações de corrupção e não conseguiu cumprir suas principais promessas de campanha, levando seu índice de rejeição a 70%
Passado um ano desde sua posse, o presidente do Peru, Pedro Castillo, está em meio a uma enorme crise política que coloca em risco o seu governo. No cargo desde julho do ano passado, o ex-líder sindical enfrenta uma série de acusações de corrupção, um índice de aprovação baixo e uma agenda legislativa que não consegue sair do papel em um Congresso dominado pela oposição.
De lá para cá, Castillo já sobreviveu a dois pedidos de impeachment, além de ter precisado lidar com o aprofundamento de conflitos econômicos e políticos, incluindo a pressão para mudar alguns de seus ministros.
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Antes de sua posse, Castillo realizou uma campanha repleta de grandes promessas, como reescrever a Constituição, redistribuir a riqueza mineral nacional e ressuscitar uma nação que ainda sofre com as consequências da pandemia do coronavírus.
Rapidamente ele conseguiu apoio de um círculo de apoiadores camponeses e trouxe uma mensagem que confundiu e abalou as elites empresariais e políticas do Peru. Com o slogan simples “Chega de pobres em um país rico”, ele inflamou as comunidades camponesas e indígenas peruanas.
Sua adversária direta ao cargo presidencial, Keiko Fujimori, filha do ex-presidente condenado Alberto Fujimori, advertiu a população que as políticas econômicas de Castillo iriam levar o país a uma crise semelhante à da Venezuela. No entanto, para o eleitorado peruano, cansado de constantes crises políticas, ambos os representantes representavam um perigo para a nação.
O medo dos candidatos se refletiu no resultado da eleição, na qual o líder socialista saiu vitorioso com uma diferença de apenas 44 mil votos. Assim que chegou à Presidência, Castillo foi criticado por nomear pessoas vistas como inexperientes ou da linha mais dura, incluindo alguns como supostas ligações criminais.
Além disso, sua fidelidade ao líder do Peru Livre, Vladimir Cerrón, levantou o medo de que ele abraçaria autocratas regionais e promulgaria uma agenda radical que assustaria o investimento estrangeiro.
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Em meio a várias remodelações do gabinete, suas promessas de campanha foram rejeitadas pelo Congresso e, em março, ele sobreviveu a uma segunda tentativa de impeachment, conduzida por partidos de direita que citaram “incapacidade moral” e alegações de corrupção.
Em maio, o procurador-geral do Peru revelou que Castillo seria incluído em uma investigação sobre um suposto esquema de corrupção dentro de seu Ministério do Transporte, se tornando o primeiro presidente do país a ser investigado por promotores nacionais enquanto estava no cargo.
Além disso, a Procuradoria anunciou na última semana que tinha planos de abrir uma nova investigação por suposta obstrução da justiça pela demissão do ministro do Interior, Mariano Gonzalez, que havia sancionado uma força-tarefa especial para localizar e prender aliados fugitivos do presidente.
Com uma oposição dividida, nenhum sucessor presidencial claro à vista e uma população enfurecida pelos escândalos de corrupção do governo, Castillo enfrenta graves problemas. Greves nacionais de sindicatos de caminhoneiros e agricultores por causa dos altos custos de combustível, fertilizantes e alimentos provocados pela guerra da Rússia na Ucrânia minaram a confiança em sua capacidade de governar.
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Todo esse cenário fez com que o índice de desaprovação do presidente chegasse a 70% na pesquisa mais recente, tornando ainda mais nebulosos os próximos quatro anos que Castillo ainda tem como presidente do Peru.