Os franceses vão às urnas neste domingo, 7, para decidir sobre o futuro político de sua nação. As estações de voto começaram a receber os quase 47 milhões de eleitores inscritos às 8 horas da manhã do horário local e devem ficar abertas até as 19h nas cidades menores e até as 20h nos grandes centros urbanos, como Paris. Após quatro meses de campanha, o mundo todo aguarda ansioso pelo resultado destas presidenciais.
Uma pesquisa divulgada pelo instituto Odoxa na última sexta-feira apontou que um quarto do eleitorado da França deve se abster neste segundo turno. Os números são extremamente altos para a história do país e se forem provados verdadeiros podem ter um impacto potente no resultado da votação.
Baixas taxas de comparecimento normalmente significam resultados mais distantes daquilo que era previsto pelas pesquisas de boca de urna. E, neste caso, a abstenção tem tudo para beneficiar a candidata de extrema-direita Marine Le Pen. “Altas taxas de abstenção sempre beneficiam os partidos e os candidatos menores”, diz o especialista inglês em política francesa da Universidade de Warwick, David Lee.
Os eleitores de Le Pen são mais fiéis, tem menos chances de mudar seu voto na última hora, e não devem deixar de comparecer às urnas. São os eleitores de centro, que costumavam votar nos grandes partidos e que estão descrentes na política francesa, que tem mais chances de desistir de votar. Nesta equação, o independente Emmanuel Macron tem tudo a perder, já que os cidadãos mais moderados são essenciais para sua vitória. “É muito mais provável que os eleitores de Le Pen saiam de casa para dar seu voto para ela do que os de Macron”, diz o americano David A. Bell, historiador especialista em França e professor da Universidade de Princeton.
A decisão do ex-candidato de extrema esquerda Jean-Luc Mélenchon de não apoiar nenhum dos dois candidatos também pode influenciar os altos índices de abstenção e uma mudança nas pesquisas. Enquanto a maioria dos eleitores de esquerda tem aversão às políticas anti-imigração e anti-União Europeia da representante da Frente Nacional, muitos também acham difícil apoiar a abordagem economicamente liberal de Macron.
Por isso por volta de 36% dos cidadãos que votaram em Mélenchon no primeiro turno pensam em anular seu voto, enquanto 29,% planejam nem comparecer às urnas. Algo em torno de 25% dos eleitores de Benoît Hamon, do Partido Socialista, e 33% dos do republicano François Fillon, também devem se abster.
Por que os franceses não estão votando?
No primeiro turno, o índice de comparecimento foi bom, de quase 78%, segundo o Ministério do Interior. A história eleitoral francesa mostra que o segundo dia de votação costuma ter um comparecimento ainda maior do que o primeiro. Porém, tudo indica que em 2017 será diferente. “A abstenção tende a ser mais alta neste segundo turno por causa do enorme descontentamento e desilusão geral com os partidos maiores, particularmente com os partidos de esquerda, como o Partido Socialista”, diz o professor da Universidade de Warwick.
A propagação da hashtag #SansMoiLe7Mai (Sem mim em 7 de maio) nas redes sociais e outras campanhas e protestos nas ruas que levam o slogan “ni, ni”, algo como “nem um nem outro”, em português, provam que a população está mesmo insatisfeita com a atual situação da política francesa e que isso a está afastando das urnas.
Le Pen tem chances reais de ganhar?
Muitos matemáticos e estúdios do comportamento eleitoral estão tentando calcular quais são as chances reais de Marine Le Pen sair vencedora neste domingo. As principais pesquisas de boca de urna apontam Macron ganhando com 61% dos votos, com a nacionalista extremista com apenas 39%. Porém, um cálculo feito analista eleitoral do instituto político Sciences Po, em Paris, Serge Galam, apontou que se o comparecimento dos eleitores do candidato centrista às urnas for baixo, tudo pode mudar.
“Se 90% das pessoas que disseram que iriam votar em Le Pen cumprirem sua palavra, e ao mesmo tempo somente 65% dos que declararam que iriam votar em Macron realmente votarem, então é Marine Le Pen quem ganha as eleições francesas com uma pontuação de 50,07%”, afirma o estudo publicado por Galam.