A manhã de domingo, 21 de julho, foi especialmente movimentada na residência da vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris. Após preparar um café da manhã para parentes que estavam de visita em Washington, D.C., ela sentou-se à mesa para montar um quebra-cabeça com suas sobrinhas. De repente, o telefone tocou.
“Era Joe Biden, e ele me contou o que tinha decidido fazer”, disse Harris durante a primeira entrevista concedida na condição de candidata democrata na corrida pela Casa Branca.
Aquele telefonema foi um marco na história americana. Nunca um candidato havia saído do páreo tão próximo ao dia de eleição, e os outros dois que desistiram (Harry Truman, em 1929, e Lyndon Johnson, em 1968) o fizeram ainda durante as primárias, em que membros do mesmo partido se digladiam para representar a legenda nas urnas.
Também foi um fator que virou de cabeça para baixo a campanha presidencial de 2024, além de mudar substancialmente a vida e a carreira de Harris. Mas no momento, segundo contou na mais franca declaração sobre a desistência de Biden, ela estava mais preocupada com o impacto que a decisão teria sobre presidente, que passou semanas resistindo aos pedidos de renúncia depois que uma performance desastrosa no primeiro debate presidencial contra Donald Trump fez com que os democratas questionassem sua capacidade de governar aos 81 anos.
“Eu perguntei a ele: ‘Você tem certeza?’ e ele disse ‘Sim’”, Harris lembrou na entrevista à emissora americana CNN. “Meu primeiro pensamento não foi sobre mim, para ser honesta com você. Meu primeiro pensamento foi sobre ele.”
Defesa do colega
Harris disse acreditar que a história mostrará que o governo Biden foi “transformador” e verá sua decisão de deixar a disputa como algo que reflete seu caráter. Ela descreveu o colega como alguém que é “bastante altruísta e coloca o povo americano em primeiro lugar”.
A vice-presidente voltou a defender o histórico de Biden, elogiando seus investimentos em infraestrutura, bem como esforços para reduzir os custos dos medicamentos e renovar relacionamentos com aliados no exterior.
“Estou muito orgulhosa de ter servido como vice-presidente de Joe Biden”, disse ela.
Além disso, defendeu que o presidente poderia ter cumprido mais um mandato.
“Ele é tão inteligente, e passei horas e horas com ele no Salão Oval. Ele tem a inteligência, o comprometimento, a capacidade de julgamento e a disposição que acho que o povo americano merece em seu presidente”, afirmou, reiterando que Trump, por outro lado, não tinha nenhuma dessas qualidades.