Como seca histórica gerou rixa entre a população do Uruguai e o Google
Consumo exacerbado de água pela gigante de tecnologia irritou habitantes, que passam pela pior seca no país em mais de 70 anos
Um plano para construir um centro de dados do Google no Uruguai está causando revolta entre a população do país. O projeto prevê o uso de 7,6 milhões de litros de água por dia, enquanto os uruguaios estão passando por sua pior seca em 74 anos. A situação é tão grave que o governo até decidiu misturar água salgada com a água potável para garantir o estoque.
A gigante de tecnologia comprou 29 hectares de terra para construir um centro de dados na área de Canelones, no sul do Uruguai. De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente, o gasto diário de água para resfriar seus servidores é equivalente ao volume consumido todos os dias por 55 mil pessoas.
Além disso, a água das novas instalações viria diretamente do sistema público de água potável. Críticos afirmam que o governo está priorizando o recurso para multinacionais, bem como o agronegócio – que consome 80% da água do país –, em detrimento de seus próprios cidadãos.
+ Governo do Uruguai decreta emergência hídrica em Montevidéu
O Ministério da Indústria do Uruguai argumentou que as informações sobre o projeto estão desatualizadas, porque a empresa está revisando os planos e o centro de dados será “menor”. Em comunicado, o Google disse que a instalação iria atender usuários em todo o mundo, processando solicitações de serviços como YouTube, Gmail e sua plataforma de pesquisas.
“O projeto no Uruguai ainda está em fase exploratória e a equipe técnica do Google está trabalhando ativamente com o apoio das autoridades nacionais e locais. Esperamos que os números preliminares (como a projeção de consumo de água) passem por ajustes”, afirmou o comunicado.
“No Google, a sustentabilidade está no centro de tudo o que fazemos, e a forma como projetamos e gerenciamos nossos centros de dados não é exceção”, completou o texto.
+ Mundo registra junho mais quente da história, diz observatório da UE
A polêmica veio durante uma aguda escassez de água no Uruguai. Com poucas chuvas e temperaturas recordes, o principal reservatório do país secou e os rios estão esgotados.
A capital, Montevidéu, declarou estado de emergência. Depois de dobrar os níveis permitidos de cloreto de sódio na água de torneira, autoridades locais passaram a adicionar água salgada ao abastecimento público de água potável. A parcela salobra da mistura é proveniente do estuário do Prata, onde o mar se mistura com o rio.
+ Presidente uruguaio critica fala de Lula sobre Venezuela
Autoridades, contudo, aconselharam mulheres grávidas e pessoas com problemas graves de saúde a não beberem água de torneira potável. Os pais também receberam orientações para prepararem leite em pó para bebês com água engarrafada, e não adicionar sal à comida das crianças que tomem água salobra.
O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, anunciou medidas de emergência, como o aumento de impostos sobre a água engarrafada e a distribuição de dois litros de água gratuita por dia para 21 mil famílias pobres ou vulneráveis, embora estima-se que até 500 mil pessoas não consigam comprar água engarrafada. Lacalle Pou também prometeu construir um novo reservatório em 30 dias.