Como Steve Bannon, ex-aliado de Trump, incentivou invasões em Brasília
Peça central no ataque ao Capitólio, estrategista da direita mandou mensagens em apoio aos atos terroristas em Brasília
Quando começaram a surgir as primeiras cenas da invasão terrorista de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Congresso Nacional, ao Palácio da Alvorada e ao Supremo Tribunal Federal, no domingo 8, autoridades de todo o mundo começaram a fazer comparações com o ataque ao Capitólio dos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021. Figura central no ataque nos EUA, Steve Bannon, ideólogo da nova direita radical populista e ex-assessor de Donald Trump, também teve uma importância para os atos no Brasil.
Em 2019, Jair Bolsonaro participou de um jantar na residência do embaixador do Brasil em Washington, com nomes como Olavo de Carvalho, Gerald Brant, diretor do fundo de investimentos Pantera Capital, e o próprio Steve Bannon.
O ex-oficial da Marinha americana e ex-investidor de Wall Street coordenou a campanha de Donald Trump para as eleições presidenciais de 2016 e, após a vitória, ganhou o cargo de estrategista e conselheiro sênior do presidente eleito.
Pouco depois do incidente terrorista em Charlottesville, na Virginia, em agosto de 2017, quando um nacionalista branco jogou seu carro contra a multidão e matou uma jovem, Bannon deixou o cargo. Insistiu que sua partida fora voluntária. Mas estava inequivocamente enfraquecido e fora escorraçado da Casa Branca por Trump.
Já no ano passado, em uma reunião revelada pelo jornal americano Washington Post, Bannon se encontrou com Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do ex-presidente, no resort de Trump na Flórida. Um pouco depois, em novembro, o ex-assessor aparece em vídeo veiculado por Eduardo Bolsonaro comentando a atual situação política no Brasil. “Olhe para os grandes patriotas do Brasil, eles se colocaram em risco”, diz o político americano na gravação em que critica as urnas eletrônicas.
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A relação próxima dos dois já era alvo até do inquérito das fake news no STF. Assim como difundiu teorias infundadas de uma suposta fraude eleitoral nos EUA, Bannon já vinha fazendo o mesmo em relação ao pleito brasileiro desde antes do primeiro turno das eleições brasileiras.
Em vários episódios do seu podcast e postagens de rede social, ele e seus convidados alimentaram as alegações de uma “eleição roubada” e forças sombrias. Uma das hashtags, #BrazilianSpring, fazia referência à Primavera Árabe, uma onda de protestos contra ditaduras em países do Oriente Médio e Norte da África.
No último domingo, após as cenas terroristas da invasão aos prédios públicos em Brasília, Bannon definiu os invasores como “lutadores pela liberdade”, dizendo que “Lula roubou a eleição e os brasileiros sabem disso”.
As falas relembrar as feitas um dia antes da invasão ao Capitólio, quando Bannon alertou a seus ouvintes do podcast: “A coisa vai pegar fogo amanhã”. Assim como outros assessores de Trump, não demonstrou qualquer consternação e ajudou a espalhar rumores infundados de fraude eleitoral.
O ataque ao Capitólio dos EUA ocorreu em 6 de janeiro de 2021, depois que o multidão convocada pelo ex-presidente invadiu a sede do poder legislativo para protestar contra o resultado da eleição presidencial de 2020, que levou o democrata Joe Biden ao poder. O incidente terminou com cinco mortes e deixou mais de 140 policiais feridos. Desde então, cerca de 880 pessoas foram presas em conexão com a violência, com mais de 400 confissões de culpa.
Bannon foi condenado a quatro meses de prisão por se recusar a cumprir uma ordem para testemunhar perante um comitê do Congresso que investigou o ataque, mas está em liberdade enquanto aguarda recurso.