A pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2) atingiu mais de 130.000 pessoas até esta sexta-feira, 13, em pelo menos 110 países espalhados por todos os continentes, com exceção da Antártida. Mais de 4.900 pessoas faleceram em decorrência da pandemia. Enquanto a China optou por drásticas quarentenas, com resultados eficazes, e os Estados Unidos decretaram emergência nacional, os governos de Taiwan, Singapura e Hong Kong têm demonstrado que, sem métodos draconianos, há como responder bem ao avanço da epidemia.
São todos próximos da China, onde o surto se originou no final de 2019 e se espalhou com rapidez e ferocidade a partir de janeiro. Por lá, a epidemia contaminou 80.991 pessoas e matou 3.180. Mas reação dos governos de Taiwan, Singapura e Hong Kong ao novo coronavírus mostrou-se tão imediata quanto distinta. As três regiões preferiram não impor dura quarentena a parcelas de seus territórios, como foi a opção de Pequim. Em comum, todas têm a alta densidade populacional, o que facilitaria a transmissão do vírus. Igualmente elas se valeram do uso da tecnologia e tomaram medidas imediatas para evitar a proliferação.
Taiwan
Ilha a menos de 150 quilômetros da China continental, menos da metade da distância entre São Paulo e Rio de Janeiro, Taiwan registrou apenas 49 casos e uma morte. Para comparação, embora sem nenhum óbito causado pelo Covid-19, a doença gerada pelo coronavírus, o Brasil já conta com 98 enfermos, segundo informou o Ministério da Saúde nesta sexta.
Até terça-feira 10, Taiwan tinha a menor taxa de incidência do novo coronavírus per capita, com cerca de 1 enfermo para cada 500.000 pessoas, segundo a emissora americana NBC News.
Antes de qualquer outro país no mundo, Taiwan já havia proibido a entrada de voos vindos da cidade de Wuhan, epicentro do surto na China, no final de janeiro. A restrição depois se expandiu para todo o território chinês com exceção de quatro cidades chinesas, dentre elas Pequim. O país também se antecipou à confirmação da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 20 de janeiro, de que o vírus é transmissível entre pessoas. Viajantes vindos de Wuhan já eram submetidos à triagem médica pelas autoridades de Taiwan durante o próprio voo.
Diante do ingresso de enorme número de turistas chineses para o Ano Novo Lunar, celebrado este ano em 25 de janeiro, o governo de Taiwan suspendeu as aulas nas escolas até final de fevereiro e determinou a desinfecção sistemática de áreas públicas. Para conter a transmissão local, as autoridades também impuseram regras rígidas de quarentena aos infectados, ainda vigentes.
A punição para quem descumprir a quarentena é de 33.200 dólares, segundo o jornal americano The New York Times, e a fiscalização tem sido realizada por rastreamento do telefone do enfermo.
O governo também assumiu um controle rígido sobre a comercialização das máscaras cirúrgicas. É proibida a exportação desses produtos, que são vendidos a um preço estabelecido pelo governo em 16 centavos de dólar a unidade.
Singapura
O governo de Singapura, país com 187 casos confirmados e nenhuma morte, já impôs quarentenas de duas semanas a 2.887 pessoas que entraram em contato com os pacientes infectados. De fato, a estratégia de resposta dessa cidade-Estado, que abriga mais de 5 milhões de pessoas em uma área equivalente à metade da cidade de São Paulo, é reconhecida como acertada em função dos poucos casos, em comparação com os da China. As altas temperaturas – de 26 a 28 graus Celsius nessa temporada – podem ter contribuído, uma vez que o coronavírus teoricamente não sobrevive ao calor.
Segundo um estudo da Universidade de Harvard, a detecção de casos em Singapura é três vezes mais eficiente do que a média global. As autoridades locais testaram mais de 1.300 pessoas, incluindo todos os casos reportados de pneumonia e de sintomas semelhantes ao da gripe. O Ministério da Saúde buscou informações adicionais sobre o paradeiro de pacientes confirmados com o novo coronavírus até mesmo por meio de registros de check in e de câmeras de segurança em hotéis.
Semelhante a Taiwan, em fevereiro, o país introduziu um software para celular para monitorar a localização das pessoas submetidas a em quarentena. O teste para avaliar se uma pessoa está contaminada pelo novo coronavírus é gratuito em Singapura, e seu governo ainda arca com as despesas médicas de qualquer residente que seja considerado um caso suspeito ou confirmado.
Hong Kong
Diferentemente de Taiwan e de Singapura, Hong Kong, que é uma região especial administrativa da China, divide fronteira com território chinês. Mas tomou suas próprias medidas para a contenção da epidemia, que se traduziram principalmente no bloqueio de suas passagens para o continente. O país que ainda enfrentando as turbulentas manifestações pró-democracia quando o surto estourou, registra apenas 131 enfermos até esta sexta-feira. Sua vizinha imediata, a província de Guangdong, tem mais de 1.300 casos.
Em 29 de janeiro, dias após a confirmação do primeiro caso importado de coronavírus em Hong Kong, as autoridades locais fecharam parte de sua fronteira com a China. Atualmente 11 dos 14 pontos de entrada terrestre permanecem cerrados, segundo o jornal The New York Times.
A entrada de chineses na região especial caiu em 57%, de mais de 170.900 para quase 70.000 em apenas um dia, segundo a chefe de governo de Hong Kong, Carrie Lam. Também foram suspensos todos os serviços de trem, ônibus e balsa para a China continental. Hong Kong ainda determinou que qualquer viajante que passe pela fronteira terrestre ou que tenha recentemente estado na China continental seja obrigado a entrar em quarentena por 14 dias.
Para tentar conter a transmissão local do vírus, as autoridades da saúde anunciam diariamente o endereço de pessoas que tenham tido exames positivos para o novo coronavírus. O governo é capaz de rastrear quais as pessoas entraram em contato com os contaminados dois dias antes de ele ter demonstrado sintomas.