Coreia do Sul rejeita retirada da força militar dos EUA de seu território
Saída dos 28.500 soldados americanos é exigência da Coreia do Norte; manobras aéreas conjuntas neste mês podem causar novo revés para as negociações de paz
Em um revés para as esperadas negociações de um tratado de paz entre as duas Coreias, o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, rejeitou nesta quarta-feira (2) a ideia da saída dos 28.500 soldados americanos e o fechamento das 15 bases militares dos Estados Unidos de seu país.
Moon enfatizou a importância estratégica dessas forças. “As forças dos Estados Unidos na Coreia do Sul são uma questão que depende da aliança entre a Coreia do Sul e os Estados Unidos. Não tem nada a ver com a assinatura de um tratado de paz”, declarou.
O posicionamento de Moon antecipa uma controvérsia que deverá se desdobrar, em um primeiro momento, durante a esperada reunião do líder norte-coreano, Kim Jong-un, com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O encontro deverá acontecer entre o final de maio e o início de julho em local ainda não definido.
Na semana passada, Moon e Kim tiveram um encontro histórico na Zona Desmilitarizada, uma faixa altamente armada na fronteira das duas Coreias. Ambos firmaram uma declaração na qual se comprometem a levar adiante uma agenda para a desnuclearização e a pacificação definitiva da península. Por “desnuclearização”, Kim entende o fim do programa nuclear militar de seu governo e também a retirada das forças americanas da Coreia do Sul.
Um porta-voz do governo sul-coreano informou hoje que as tropas dos Estados Unidos têm “papel mediador” no contexto da vizinhança do país com a China e o Japão. Daí a “necessidade” de mantê-las. Em artigo na revista Foreign Affairs, o conselheiro Moon Cung-in escreveu ” que seria “difícil justificar a manutenção (dos contingentes americanas) na Coreia do Sul”, após a assinatura da paz com o país vizinho. O porta-voz da Presidência sul-coreana, Kim Eui-kyeom, reagiu ao pediu a seu conselheiro que “não provoque mais confusão”.
O Norte e Sul vivem sob os termos de um armistício desde o fim da Guerra da Coreia, em 27 de julho de 1953. O documento foi assinado pelo comando das tropas norte-coreanas, do Exército de voluntários chinês e pelos Estados Unidos, representando as Nações Unidas. Mas nunca houve paz, e o desenvolvimento do programa nuclear da Coreia do Norte, com sucessivos testes de explosões nucleares e de lançamento de mísseis, tornou a Coreia do Sul e todo o Oriente vulnerável a um possível ataque.
Aviões invisíveis
Outro revés para as negociações de paz poderá ser marcado pelas manobras aéreas conjuntas dos Estados Unidos e da Coreia do Sul, agendadas para começar em 11 de março e com duas semanas de duração. O governo de Seul confirmou hoje a mobilização de vários aviões de caça americanos F-22 Raptor, mais conhecidos como aviões invisíveis, no país.
Os F-22 Raptor já haviam sobrevoado a Coreia do Sul em dezembro, quando Seul e Washington realizaram exercícios aéreos conjuntos depois de a Coreia do Norte ter lançado um míssil balístico intercontinental (ICBM), com a capacidade de alcançar o território continental americano.
As autoridades norte-coreanas costumam reagir com veemência às manobras de caças americanos, por temer possíveis ataques à Coreia do Norte. Desta vez, porém, Kim Jong-un tende a mostrar-se mais conciliador. Em março, dissera ao enviado sul-coreano, Chung Eui-yong, que entendia a necessidade de Washington e de Seul fazerem exercícios militares conjuntos.
As manobras aéreas “Max Thunder” devem envolver uma centena de aviões de ambos os países. “Max Thunder é um exercício regular que estava previsto muito antes de surgir o projeto da cúpula entre Estados Unidos e Coreia do Norte”, informou, por comunicado, o Ministério sul-coreano da Defesa, que pediu à imprensa que evite “especulações” a respeito das intenções dessa operação.
O jornal conservador “Chosun Ilbo” havia afirmado que o objetivo dessa mobilização era aumentar a pressão sobre Pyongyang antes do encontro histórico entre Trump e Kim. A publicação disse também que a chegada dos caças F-22 também poderia estar destinada a reforçar a segurança, caso essa cúpula seja em Panmunjom, vilarejo na fronteira onde foi assinado o armistício, em 1953.
(Com AFP e EFE)