Cortes de internet esfriam protestos em Cuba
Manifestantes estão impedidos de convocar novos protestos pelas redes sociais, que não podem ser acessadas desde o último domingo
Três dias depois dos protestos abalarem várias cidades de Cuba, o apagão de informações continua devido ao corte de internet. A disseminação de informações nas redes sociais foi fundamental para a convocação das manifestações.
Nesta quarta-feira, 14, ainda era impossível acessar as redes sociais pelo celular, o que gerou confusão sobre as notícias de possíveis incidentes em algumas cidades e nas ruas de Havana, onde a presença policial ainda é intensa.
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Apesar da conexão à internet móvel no país continuar cortada, uma minoria já recuperou o serviço de dados e alguns jovens têm utilizado plataformas de redes privadas virtuais (VPN) para ficar online.
O corte da internet interrompeu a rotina de parte dos trabalhadores do país, já que o trabalho remoto foi adotado por muitos setores.
A avalanche de informações do exterior, misturada ao silêncio oficial e notícias falsas dificultou a avaliação da realidade.
O chanceler cubano Bruno Rodríguez garantiu na terça-feira que o país está calmo e levando uma vida normal, confiou que os incidentes não se repetirão e acusou diretamente Washington de estar por trás do que aconteceu na ilha no domingo.
Segundo a versão oficial, a polícia e os defensores do governo enfrentaram um grupo de manifestantes que na tentativa de evadir-se da ação, vandalizaram casas, atearam fogo a contêineres e afetaram as linhas de transmissão.
O próprio comunicado oficial, que não descreve as causas do protesto, mostra uma realidade absolutamente inédita em Cuba.
As manifestações do domingo tiveram início em San Antonio de los Baños, onde um grupo de pessoas tomou as ruas para exigir liberdade e criticar o governo pela escassez de comida, medicamentos e contínuos apagões sofridos pelo município.
O protesto estava sendo transmitido ao vivo no Facebook até a internet do país ser cortada, o que possivelmente motivou atos semelhantes em outras localidades ao longo de toda a extensão da ilha.
Diversas organizações anticastristas e também ONGs de defesa dos direitos humanos habitualmente críticas ao governo têm divulgado imagens e vídeos de prisões, confrontos e episódios de violência policial excessiva, mas a maioria não foi corroborada pela imprensa estrangeira.
O chanceler Rodríguez assegurou em entrevista coletiva que os Estados Unidos manipulam dados e usam seu monopólio de ferramentas de alta tecnologia para difamar o Governo cubano, fomentar a agitação e abalar o regime.
Sobre o apagão da internet, Rodríguez negou que fosse uma política oficial. “Hoje em dia tem faltado energia elétrica, o que afeta também o funcionamento de redes, nós, servidores e telecomunicações”, disse.
“Em um país onde temos uma situação de carência aguda de medicamentos, é verdade que faltam dados, mas faltam medicamentos”, completou Rodríguez.