A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, anunciou nesta terça-feira, 7, um novo investimento privado de 1,9 bilhão de dólares para combater a imigração ilegal no país, poucas horas antes dos primeiros encontros da Cúpula das Américas, sediada por Washington.
O financiamento é feito por 10 empresas privadas do setores agroalimentar, telecomunicações, têxtil, financeiro, energético e automotivo e se s0ma aos 1,2 bilhão de dólares assegurados no ano passado também do setor privado. Como encarregada no governo de Joe Biden na questão da imigração, Harris já chega a 3,2 bilhões de dólares direcionados à causa.
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Devido a sua posição, é esperado que a vice-presidente assuma um grande papel na cúpula desta semana como parte de um esforço do governo americano para promover uma abordagem mais cooperativa com os países latino-americanos.
No entanto, é provável que o assunto, tido como prioridade pela Casa Branca, não veja tanto progresso durante o evento devido à ausência do presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, fundamental para a resolução da questão. Ele anunciou que não iria para o encontro devido ao boicote dos Estados Unidos a Cuba, Venezuela e Nicarágua.
Além dele, líderes do Triângulo Norte da América Central, composto por Guatemala, Honduras e El Salvador, também não estarão presentes em Los Angeles nesta semana, data da cúpula, o que deve dificultar ainda mais a chance de uma resolução concreta.
Em comunicado, o gabinete de Kamala Harris disse que os investimentos serão responsáveis por gerar dezenas de milhares de empregos nesses países, que contarão ainda com esforços para combater a violência de gênero, bem como planos de apoio aos mais jovens, que serão financiados com a ajuda dos Estados Unidos.
“Os investimentos visam dar esperança para as pessoas da região construírem vidas seguras e prósperas em suas casas”, disse a Casa Branca em comunicado.
Dentre os novos compromissos corporativos, a Visa prometeu investir 270 milhões de dólares focados em trazer 6,5 milhões de pessoas para o sistema bancário formal, enquanto a Gap se comprometeu em investir cerca de 150 milhões de dólares para gerar mais empregos na região.
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Responsável por lidar com a questão da imigração, a vice-presidente iniciou suas ações com um tropeço. Em viagem à América Central, em junho de 2021, Harris disse para que os imigrantes não fossem até a fronteira, o que incomodou setores mais progressistas e a própria Casa Branca.
Mesmo com o problema, ela já havia iniciado sua estratégia de pedir apoio ao setor privado para lidar com a questão migratória. De lá para cá, mais de 40 empresas, incluindo a Microsoft e a MasterCard, já embarcaram no plano da democrata.
Apesar dos esforços, a imigração ilegal parece estar longe de uma solução. Em 2021, cerca de 1,6 milhão de pessoas tentaram atravessar a fronteira dos Estados Unidos sem nenhuma documentação, tornando-se um ponto de vulnerabilidade para o partido democrata de Biden, que precisa de bons resultados eleições legislativas em novembro. Além disso, houve fortes críticas ao modo como o governo lida com a onda imigratória, sobretudo após o deputado democrata Henry Cuellar divulgar uma série de fotos de um centro de detenção lotado que abrigava crianças migrantes.
Líderes republicanos dizem que, por uma postura “mais aberta”, Biden é o culpado pela nova onda de migrantes que está aparecendo na fronteira EUA-México, criando uma situação de crise que ameaça a segurança americana.
Apesar disso, de acordo com o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, a ausência de López Obrador não irá impedir esforços para promover a cooperação.
“Teremos várias oportunidades de nos envolver com nossos colegas mexicanos no contexto da cúpula desta semana e estamos ansiosos por esses compromissos”, disse Price, observando que, apesar da ausência do chefe de Estado, a cúpula irá contar com a presença do ministro das Relações Exteriores mexicano.
Um assessor de Harris garante também que a relação dela com a líder hondurenha, Xiomara Castro, continua “muito boa”. As duas conversaram por telefone no final de maio e discutiram uma “expansão das oportunidades econômicas na região”. No cargo desde janeiro, Castro já havia dito que não iria à cúpula caso Cuba, Venezuela e Nicarágua não fossem convidadas.