Democratas versus Trump: a mais forte resistência em décadas
Uma das ações mais fortes do partido foi a manobra para postergar a nomeação do juiz federal Neil Gorsuch
O Partido Democrata entrou em um difícil período no início da presidência de Donald Trump com a derrota surpreendente de Hillary Clinton, o controle republicano sob o Congresso e a falta de uma liderança consistente no partido. Contudo, os primeiros 100 dias da nova administração parecem ter despertado os democratas de seu momento ruim.
As políticas republicanas totalmente contrárias às posições do Partido Democrata obrigam os legisladores e líderes partidários a criarem maior resistência na relação com a Casa Branca e nas discussões do Congresso. “A oposição é mais intensa e sistemática do que nos demais governos republicanos”, diz o professor de Relações Internacionais da FECAP, Emmanuel de Oliveira Junior.
O ponto alto da luta democrata nos últimos meses foi o uso de artimanhas para prorrogar as discussões sobre a nomeação do juiz federal Neil Gorsuch e barrar sua indicação para a Suprema Corte. As medidas obrigaram os republicanos a apelar para a manobra conhecida como “opção nuclear”, que revoga a regra que impõe a necessidade de uma maioria de 60 votos no Senado para a aprovação do indicado. Apesar da nomeação do juiz conservador ter sido confirmada, os democratas demonstraram que são uma oposição consistente.
O aumento no número das chamadas “cidades santuários”, comandadas por prefeitos democratas que se opõem as políticas e planos imigratórios de Donald Trump, também demonstram o fortalecimento da resistência. Prefeitos de cidades grandes como Los Angeles, Nova York e Chicago e até mesmo de cidades menores estão se unindo e reforçando sua convicção de que qualquer política de imigração discriminatória implantada em nível nacional não será acatada em suas cidades como forma de proteger seus cidadãos.
Mesmo diante da ameaça do governo federal de cortar financiamento aos municípios que não cooperarem com os oficiais da imigração, a resistência continuou e nesta terça-feira um juiz da corte federal de San Francisco suspendeu a aplicação do decreto de Trump que instituía o corte de recursos.
Arrecadação de fundos de campanha
Desde as eleições de novembro do ano passado, os democratas também já se preparam para as eleições legislativas do meio do mandato. A arrecadação de fundos de campanha para a votação que deve acontecer em novembro de 2018 já começou e o Partido Democrata disparou na frente.
Seis dos dez senadores do partido que concorrem a reeleição nos estados em que Donald Trump ganhou nas presidenciais de 2016 já coletaram mais de 2 milhões de dólares nos primeiros três meses do ano. A maior parte do dinheiro vem de cidadãos comuns que se opõem ao atual controle da política americana pelos republicanos e está disposto a doar pequenos valores.
Popularidade
Apesar da vibrante resistência, o Partido Democrata ainda se encontra em um momento de vácuo de liderança e sofre com sua popularidade nacional. Uma pesquisa do Wall Street Journal em parceria com a NBC News mostrou que mais americanos avaliam o partido negativa do que positivamente (39% contra 19%).
A queda da popularidade de Trump, que atualmente gira em torno de 41% segundo o Instituto Gallup, também não significa necessariamente uma vantagem para os democratas. Na verdade, revela um cenário de incerteza que deve dominar a política americana nos próximos anos e pode gerar uma disputa interna pelo controle político e da agenda democrata, em busca de melhores resultados em próximas eleições. “Isso tende a incrementar a intensidade da oposição democrata no Congresso”, explica o professor Emmanuel de Oliveira Junior.