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E Trump piscou para o Irã

Presidente foi eleito com a promessa de tirar os EUA de guerras desnecessárias, mas está acostumado a ameaçar adversários com o poder militar

Por Lúcia Guimarães 21 jun 2019, 21h20
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  • Dez minutos antes do planejado ataque retaliatório ao Irã pela derrubada do drone americano. navios e aviões a postos, Donald Trump voltou atrás. Ao contrário de Barack Obama, universalmente espinafrado, em 2013, por não cumprir a ameaça da “linha vermelha” – atacar a Síria se Bashar al-Assad usasse armas químicas – o republicano atraiu aprovação nesta sexta-feira, 21, de onde menos esperava.

    Até John Brennan, ex-diretor da CIA no governo Obama e crítico contundente de Trump, o elogiou por cancelar o ataque, ao descobrir que havia uma estimativa de 150 mortes civis entre iranianos. Num episódio sem precedentes em estratégia militar americana, Trump explicou via Twitter o motivo de abortar o ataque planejado contra três locais pela derrubada do drone não pilotado.

    “Quando perguntei, quantos morreriam, 150 pessoas”  ele escreveu no Twitter, para justificar que considerara a retaliação desproporcional.

    A agência Reuters disse que Teerã recebeu uma mensagem de Trump via Omã, na noite de quinta para sexta-feira, alertando que um ataque era iminente. O americano teria dito que não tinha intenção de começar uma guerra com o Irã, mas queria conversar sobre várias questões e deu um prazo curto para receber uma resposta.

    Os iranianos disseram que tudo depende do Líder Supremo, o aiatolá Ali Khamenei. O fato é que não se negocia com o Irã como se negocia com a Coreia do Norte ou a Rússia. O Irã tem presidente e chanceler, mas Khamenei, que nunca se sentaria numa mesa de negociação com os americanos, dá a última palavra.

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    O Irã, por sua vez, embarcou no bonde da propaganda da magnanimidade e anunciou, pela TV estatal, que havia um avião militar Poseidon-8, supostamente com 35 tripulantes a bordo, que voava na vizinhança do drone não pilotado. Mas sua força aérea decidiu não atacar o avião.

    Logo depois dos tuítes, Trump concedeu entrevista exclusiva à rede NBC, para um programa que vai ao ar domingo, 23. Nos trechos já divulgados, ele afirma que os aviões ainda não haviam decolado para o ataque e que não tinha dado sua aprovação final.

    Mas, como diz que o ataque foi abortado 10 minutos antes do início da operação, fica a dúvida: como um presidente americano, que tem o cargo de comandante chefe das Forças Armadas, só é informado sobre vítimas civis minutos antes de apertar o gatilho?

    Trump estaria sendo mal informado por seus falcões John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional, e Mike Pompeo, secretário de Estado? A rede NBC noticiou também que representantes dos iranianos haviam feito tentativas de chegar ao presidente e foram rechaçados. Por Pompeo? Bolton?

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    John Bolton há anos prega mudança de regime no Irã e apoiava abertamente o grupo dissidente iraniano M.E.K. que, até 2012, estava na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado e é extremamente impopular no Irã. O M.E.K. apoiou o Iraque na sangrenta guerra com o Irã, nos anos 1980.

    O confronto com o Irã, resultado da decisão de romper o acordo nuclear negociado por Barack Obama, é a mais séria crise internacional enfrentada pelo presidente americano. É uma situação que expõe um conflito central do homem que não esperava ser eleito presidente e conseguiu cinco deferimentos para não servir no Vietnã.

    Um comentarista político americano definiu Trump como o anti-Theodore Roosevelt, que governou os Estados Unidos de 1901 a 1909 e se celebrizou pelo mote em política externa: “Fale suavemente e carregue um grande porrete.” Trump fala grosso. Em seguida, se diz apaixonado por Kim Jong-un e cancela o ataque ao Irã.

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