As relações entre Brasil e Venezuela, vizinhos que compartilham uma fronteira de 2.200 km, chegaram ao ponto mais baixo durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Rival ideológico do líder venezuelano, Nicolás Maduro, sua administração cortou laços diplomáticos com Caracas, fechando a embaixada brasileira na capital e encerrando qualquer diálogo mesmo enquanto centenas de milhares de refugiados atravessavam a divisa com o estado de Roraima. Apesar disso, o sistema eleitoral da Venezuela, que vai às urnas escolher o próximo presidente neste domingo, 28, emprega uma bandeira bolsonarista no seu processo de contagem das cédulas: o voto impresso.
Bolsonaro acusou o modelo das urnas eletrônicas nas eleições brasileiras de não ser confiável e alegou que houve fraudes na votação de 2018, a mesma em que ele se elegeu. Seu objetivo expresso era que, a partir da eleição presidencial de 2022, os números que cada eleitor digita na urna eletrônica fossem impressos e que os papéis fossem depositados de forma automática numa urna de acrílico. Segundo ele, em caso de acusação de fraude no sistema eletrônico, os votos em papel poderiam ser apurados manualmente.
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Pois é mais ou menos assim que funciona o sistema venezuelano. Neste domingo, eleitores se direcionarão a centros de votação com urnas eletrônicas das 6h às 18h (7h às 19h no horário de Brasília), onde digitarão os números do candidato presidencial escolhido. Quando o presidente da mesa encerra a votação, é impresso um edital com código QR. Esses registos devem depois ser verificados com o que as autoridades eleitorais anunciarem.
Devido à automatização, o resultado deve ser divulgado nas horas seguintes ao fechamento das urnas. Porém, a contagem dos recibos físicos de cada voto, para comprovar o resultado eletrônico, só deve ser divulgada no dia seguinte.
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Confiabilidade das eleições na Venezuela
O ponto a favor do sistema venezuelano é que, ao longo dos anos, adquiriu todo tipo de dispositivos para evitar fraudes. Existe uma identificação biométrica dos eleitores, mas o Conselho Nacional Eleitoral não tem acesso aos dados dos cidadãos para garantir que o voto seja secreto.
Após a votação eletrônica, é impresso um certificado em papel que os eleitores verificam e depositam em uma urna, e depois são revisados manualmente. No final do dia, a máquina primeiro imprime um relatório com o resultado – diante das testemunhas eleitorais – e depois envia os dados por telefone ou satélite para o centro de informática. Também não há risco de uma falha elétrica, pois possuem baterias que garantem sua autonomia.
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Especialistas consideram que o sistema de votação é automatizado e pode ser auditado em todas as suas fases, e isso tornou-se uma garantia para a oposição. Uma espécie de tiro pela culatra do regime, que implementou, a partir de 2004, no governo de Hugo Chávez, um sistema eleitoral forte para que candidatos não ligados ao chavismo não pudessem fraudar o pleito.
A fiabilidade das máquinas, porém, não cancela o fato de que a Conselho Nacional Eleitoral seja cooptado pelo chavismo e possa anunciar um resultado inventado. Nem outros tipos de sabotagem que possam dificultar o acesso aos centros de votação, técnicas já empregadas pelo regime Maduro em outros pleitos.