Eleições suecas: neste domingo, historicamente, a direita pode vencer
O país, famoso por ser um modelo do Estado de bem-estar social, vê a extrema-direita batendo nas portas como resultado da crise dos refugiados

As eleições parlamentares que acontecem neste domingo na Suécia serão um marco decisivo na história do país escandinavo: pela primeira vez em quase 110 anos, o tradicional partido Social Democrata pode ter seu pior resultado eleitoral — e os Democratas Suecos, da extrema direita, seu melhor.
Caso os Democratas Suecos obtenham a maioria absolutas dos votos, eles poderão governar. Na Suécia, o sistema político é o Parlamentarismo Negativo, no qual podem existir governos de minoria: o partido só não pode ter mais de 50% do parlamento contra ele. De acordo com as pesquisas eleitorais, eles têm 25% das intenções de voto contra 24% do Partido Social Democrata.
Os Democratas Suecos aproveitaram a entrada de refugiados no país para se autopromover. Proporcionalmente, a Suécia foi o país europeu que mais recebeu refugiados no auge da crise: apenas em 2015, cerca de 163000 ingressaram no país escandinavo que tem apenas 10 milhões de habitantes.
Com essa entrada massiva, o partido joga com o medo da população de que os serviços públicos não deem conta de tanta gente e que o famoso “Estado de bem-estar social” sueco, caracterizado pela redistribuição de renda e por serviços públicos de altíssima qualidade, entre em colapso. O medo, porém, é infundado. “Com certeza houve uma pressão sobre esses serviços, mas a Suécia conseguiu expandi-los e administra bem o problema. Somos um país rico”, diz o sueco Erik Berggren, da Universidade Linköping.
A Suécia, de fato, ostenta indicadores econômicos invejáveis. O crescimento previsto para 2018 é de 3,3%, o desemprego é de apenas 6,2% e, a inflação, 1,5%. O contínuo crescimento da economia é um indicador de que o país não está entrando nesse suposto colapso. “Mesmo com a Suécia indo muito bem, os Democratas Suecos ainda acreditam o país está em decadência”, diz o cientista político sueco Anders Hellström, da Universidade Malmö.
Uma explicação para isso seria a nostalgia do passado do país. Hellström explica: “Eles não reconhecem demograficamente a sociedade em que cresceram, em que seus pais cresceram”. Uma sociedade menos diversa e mais branca, loira e de olhos azuis. “E acreditam que apenas uma unidade nacional pode ser capaz de manter o Estado de bem-estar social”.
Outro problema que recai sobre os imigrantes é o da recente escalada da violência na Suécia. Entre 2011 e 2017, o número de homicídios por arma de fogo mais que dobrou, e em agosto deste ano, jovens mascarados atearam fogo em mais de cem carros em um subúrbio de Gotemburgo, segunda maior cidade do país. Nesses subúrbios, há uma concentração populacional de imigrantes, o que leva a associações precipitadas de que eles sejam autores desses crimes. “A maioria dos suecos praticamente não é afetada por esse aumento da violência. E a violência mais preocupante nos subúrbios é a de gangues organizadas”, explica o historiador sueco Lars Trägårdh. Berggren adiciona: “Há muita atenção da mídia para esses casos”.
A situação em que os imigrantes se encontram mostra que os problemas estão sendo maior para eles do que para os suecos. Patrick Öhberg, cientista político sueco da Universidade de Gotemburgo, explica que a integração desses estrangeiros ainda é muito difícil: “A maioria dos empregos na Suécia pedem altas qualificações, e muitos desses imigrantes têm baixa escolaridade”. Não saber falar a língua sueca também seria um outro grande obstáculo. Essa dificuldade na integração reforça a segregação espacial dos imigrantes nos subúrbios, e neles, as taxas de desemprego são mais altas e, as educacionais, mais baixas.
Os imigrantes poderiam, pelo contrário, ajudar a de fato manter esse Estado de bem-estar social e o bom funcionamento da economia do país com a ajuda da qualificação profissional. A Suécia, assim como muitos países desenvolvidos, passa pelo problema do envelhecimento populacional e da redução de sua população economicamente ativa, isto é, em idade para trabalhar. “Os imigrantes são jovens e oferecem uma boa oportunidade ao país”, diz Öhberg. Cabe aos suecos decidir se irão tirar bom proveito desse fenômeno recente ou não.