Perto de 1,4 bilhão de pessoas, a Índia deve se tornar em breve o país mais populoso do mundo. No entanto, por pelo menos um ano, o governo não vai saber o número exato de pessoas. O censo, responsável por fazer a contagem da população, ocorre a cada década e estava previsto para 2021, mas foi atrasado devido à pandemia, e ainda segue sem previsão para início das pesquisas.
A Organização das Nações Unidas (ONU) projetou que a população da Índia iria chegar a mais de 1,4 bilhão de pessoas no dia 14 de abril, ultrapassando a China. No último censo realizado no país, em 2011, a contagem de pessoas chegou a 1,21 bilhão, indicando um aumento de 210 milhões de cidadãos indianos em 12 anos – quase o número de toda população brasileira, em comparação.
De acordo com especialistas, o atraso na atualização de dados capturados pelo censo, como emprego, moradia, níveis de alfabetização, padrões de migração e mortalidade infantil, afeta diretamente o planejamento social, econômico e a formulação de políticas do país.
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A pesquisadora do Instituto Nacional de Finanças e Políticas Públicas, Rachna Sharma, acredita que os dados do censo são “indispensáveis”. Em uma entrevista à agência de notícias Reuters, ela afirmou que os estudos, como por exemplo a pesquisa de gastos com consumo e a da força de trabalho, são estimativas baseadas em informações do censo, tornando a atividade ainda mais necessária.
“Na ausência dos últimos dados do censo, as estimativas são baseadas em dados de uma década e provavelmente fornecerão estimativas que estão longe da realidade”, alertou Sharma.
Atualmente, os gastos do governo são avaliados a partir de projeções e estimativas baseados nos dados da última contagem, informou à Reuters um funcionário do alto escalão do Ministério de Estatística e Implementação de Programas.
O principal partido de oposição, o Congresso Nacional Indiano, e os críticos ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, acusam o governo de atrasar o censo propositalmente para ocultar informações sobre questões politicamente sensíveis, como o desemprego, para serem favorecidos nas eleições nacionais previstas.
“Este governo sempre demonstrou sua rivalidade aberta com os dados”, disse o porta-voz do Congresso, Pawan Khera. “Em questões importantes como emprego, mortes por Covid, vimos como o governo Modi preferiu ocultar dados críticos.”, acrescentou.
Porém, o porta-voz nacional do partido governante, o Partido do Povo Indiano, Gopal Krishna Agarwal, rejeitou as críticas. De acordo com ele, não há base para tais afirmações.
“Qual é o parâmetro social em que nosso desempenho em nove anos é pior do que o de 65 anos?” disse ele se referindo aos anos do partido do Congresso no poder.
Funcionários do governo, um do Ministério Federal do Interior e outro do escritório do Registrador Geral da Índia, afirmaram à agência que o atraso ocorreu em grande parte porque o governo decidiu ajustar o processo do censo para o tornar infalível com a ajuda de tecnologia. O próximo censo teria a presença de um software que iria coletar todos os dados em um aplicativo de celular sincronizado com os bancos de dados das identidades existentes, incluindo a carteira de identidade nacional, chamada Aadhaar.
De acordo com a Autoridade de Identificação Única da Índia (UIDAI), 1,30 bilhão de pessoas estavam inscritas no Aadhaar até o dia 31 de dezembro de 2022, contra uma população projetada de 1,37 bilhão. A diferença seria principalmente de crianças que não estão matriculadas e mortes que não estão atualizadas, disse um ex-funcionário da UIDAI.
O ex-chefe de estatística da Índia, Pronab Sen, explicou que o sistema de registro de amostras (SRS), que estima as taxas de natalidade e mortalidade, mostra a taxa de crescimento populacional com razoável precisão. Ao contrário de Aadhaar, a pesquisa SRS conta uma amostra representativa de nascimentos e mortes e a utiliza para projetar a contagem para uma região maior.
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A pesquisa é conduzida por cerca de 330 mil professores de escolas públicas que vão de porta em porta listando todas as casas em todo o país. Em seguida, os profissionais retornam a eles com uma lista de perguntas. No plano traçado em 2021, as duas primeiras fases iriam se desenrolar ao longo de 11 meses, no qual os professores iriam fazer vinte perguntas em 16 línguas diferentes.
Os números são tabulados e os dados finais divulgados meses depois. Todo o exercício foi estimado em 1,05 bilhão de dólares em 2019. Entretanto, os professores voltaram às aulas após a interrupção da pandemia. Eles também são responsáveis em realizar nove eleições estaduais em 2023 e eleições nacionais em 2024, além do censo, e isso interromperia novamente o ensino escolar. Os pagamentos também se tornaram um problema.
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