Em entrevista tensa, Trump ataca democratas e jornalista
Presidente americano entrou em conflito direto com repórter da 'Reuters' após ser questionado sobre ações que levaram ao processo de impeachment
Donald Trump concedeu nesta quarta-feira 2 uma das entrevistas mais tensas de sua Presidência. Ao lado do presidente da Finlândia, Sauli Niinistö, o líder americano foi questionado diversas vezes sobre seu telefonema com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que deu início a um processo de impeachment. Irritado com as perguntas, Trump atacou a imprensa e entrou em conflito direto com um jornalista.
A coletiva aconteceu após uma reunião privada entre Niinistö e Trump na Casa Branca. Durante a habitual sessão de perguntas após o encontro, o líder americano foi bombardeado de perguntas sobre sua atuação para influenciar uma investigação contra o ex-vice-presidente Joe Biden na Ucrânia.
Respondendo aos jornalistas, ele classificou como “escória” o deputado democrata Adam Schiff, um dos principais nomes do processo de impeachment. Também se envolveu em uma discussão com o repórter Jeff Mason, da agência de notícias Reuters, que lhe questionou sobre o que ele gostaria que Zelensky fizesse com o democrata e pré-candidato à Presidência Joe Biden.
“O que você fez, ou queria que o presidente Zelensky fizesse em relação a Joe e [seu filho] Hunter Biden? ”, perguntou Mason, após outras indagações sobre o tema. Trump fica alguns segundos em silêncio e depois questiona: “Você está falando comigo?”.
O repórter da Reuters então insiste na pergunta e o presidente americano se irrita. “O presidente da Finlândia está aqui, faça uma pergunta para ele”, diz Trump. “Não seja indelicado.”
“Eu já respondi tudo, é uma grande farsa”, disse ainda. “E sabe quem está criando essa farsa? Pessoas como você e a imprensa de notícias falsas”, completou, apontando para Mason.
O jornalista da Reuters então se dirige a Niinistö e faz uma pergunta, mas é interrompido por Trump no meio de sua fala. “Mas eu acho que a pergunta é para mim”, diz então o líder finlandês, que havia ficado em silêncio durante a maior parte da entrevista – exceto por alguns risos abafados durante a troca de farpas entre o republicano e o repórter.
No início da coletiva de imprensa, Sauli Niinistö fez uma declaração inicial e falou muito sobre a democracia dos Estados Unidos. “Vocês têm uma ótima democracia, continuem assim”, disse. Parte da imprensa interpretou o comentário como sarcasmo contra Trump.
Ao final da coletiva, Trump voltou a atacar a imprensa e encerrou a entrevista de forma abrupta. “Se a imprensa fosse direta, honesta e resistente, nós seríamos uma nação muito melhor”, disse.
O caso Ucrânia
Os democratas da Câmara dos Deputados estão investigando se Trump pressionou Zelensky de forma inadequada, pedindo-lhe que buscasse informações comprometedoras sobre Joe Biden. A denúncia sobre o caso foi compilada em nove páginas por um funcionário anônimo que atua na inteligência americana.
O objetivo de Trump era que o governo ucraniano apurasse a fundo a participação do ex-vice-presidente americano na demissão do ex-procurador-geral do país, Viktor Shokin. Segundo ele, em 2014 Biden teria pressionado o então presidente da Ucrânia Petro Porosheko a demitir Shokin. O procurador supostamente estava encarregado de uma investigação por corrupção contra a empresa de energia em que Hunter Biden trabalhava, Burisma.
Diante das suspeitas, Trump pediu a Zelensky que trabalhasse ao lado do secretário de Justiça americano, William Barr, para investigar as ações de Biden no país. O diálogo entre os dois presidentes aconteceu durante uma ligação telefônica em julho passado. A transcrição da conversa foi liberada pela Casa Branca na semana passada.
O jornal Kyiv Post, porém, informou que Hunter e Joe Biden não foram investigados na Ucrânia e que os processos criminais abertos na Justiça local envolviam a Burisma e seu dono, Mykola Zlochevsky. Também publicou que Shokin não participara desses casos e que sua demissão era solicitada por diferentes setores da sociedade por sua obstrução e omissão em investigações de corrupção.
Em resposta, a democrata Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados, anunciou a abertura de um processo formal de impeachment contra Donald Trump por abuso de poder.