Em meio a crise, França envia gás para a Alemanha pela primeira vez
Acordo pretende aliviar déficits de energia pelo fechamento de gasodutos russos, dos quais Berlim dependia para metade do fornecimento de gás
Em meio a crescentes pressões energéticas, a França enviou gás para a Alemanha pela primeira vez nesta quinta-feira, 13. O acordo veio para aliviar os déficits provocados pelo fechamento dos gasodutos da Rússia para toda Europa, especialmente para os alemães, que dependem fortemente do Nordstream 1.
O pacto estabelecido entre os países no mês passado determina que Berlim se comprometa a fornecer eletricidade adicional à Paris quando necessário, e os franceses forneçam gás em troca. A França é menos afetada pelos gasodutos russos porque grande parte de sua energia vem da Noruega, por meio do fornecimento de gás natural liquefeito. Mesmo assim, o país vem implementando medidas para reduzir 10% do consumo de energia por parte da indústria, das autoridades municipais e das famílias.
“Se não tivéssemos solidariedade europeia e um mercado integrado e unido agora, teríamos sérios problemas”, disse o presidente francês, Emmanuel Macron, na quarta-feira 12.
A operadora de rede francesa, GRTgaz, disse que entregaria inicialmente 31 gigawatts-hora (GWh) todos os dias, através de um gasoduto da vila fronteiriça francesa de Obergailbach. A capacidade máxima diária do novo fluxo de gás é de 100 GWh, segundo o comunicado.
+ Alemanha nacionaliza gigante de gás para evitar crise energética
Embora o novo fluxo seja inferior a 2% das necessidades diárias da Alemanha, toda ajuda é bem-vinda, pois Berlim luta para diversificar suas fontes energia. Antes do fechamento dos dutos, o país dependia da Rússia para 55% de seu gás – parcela que já caiu para 35% – e quer, eventualmente, reduzir as importações a zero.
O país também aumentou seu uso de carvão e estendeu a vida útil das usinas de energia que deveriam ser fechadas devido ao impacto ambiental negativo. O governo alemão espera reduzir o uso de gás em 2%, limitando o uso de iluminação e aquecimento em prédios públicos durante o inverno.
O país também estabeleceu na segunda-feira 10 que vai pagar as contas de gás de residências e pequenas e médias empresas durante o mês de dezembro. Além disso, vai subsidiar os preços de gás entre março de 2023 e abril de 2024, em uma medida que faz parte do pacote econômico de 200 bilhões de euros anunciado pelo premiê do país, Olaf Scholz, em setembro deste ano.
+ Putin propõe ‘central de gás’ na Turquia para defender energia russa
A Rússia tem sido acusada de usar o fornecimento de gás como arma contra o Ocidente desde a invasão da Ucrânia, mas nega as denúncias. O presidente russo, Vladimir Putin, disse na quarta-feira 13 que as torneiras de gás ainda podem ser abertas para a Europa e que “a bola, como dizem, está agora na quadra da União Europeia”. Além disso, afirmou que o país está pronto para fornecer volumes adicionais de gás no período outono-inverno.
Apesar das palavras de Putin, a retomada do fornecimento de gás para a Europa é incerta. O Nord Stream 1, o maior gasoduto da Rússia para a Europa, foi fechado indefinidamente em agosto depois que, segundo estatal russa Gazprom, vários vazamentos foram encontrados.
O projeto Nord Stream 2, que deveria entrar em operação este ano, teve uma licença de operação negada pela Alemanha devido à invasão da Rússia na Ucrânia, e vazamentos foram encontrados no duto também.