Em presságio para o britânico Sunak, oposição dispara em eleições locais
Partido Conservador do premiê perdeu dois assentos no Parlamento para os trabalhistas, aumentado as expectativas de que Sunak deixe o cargo neste ano
O Partido Trabalhista britânico derrotou duplamente o Partido Conservador, do primeiro-ministro Rishi Sunak, nesta sexta-feira, 16, em um novo sinal de que o governo está em maus lençóis. As eleições parlamentares do Reino Unido foram realizadas nesta quinta-feira, mas os resultados só foram liberados na madrugada seguinte.
Em Kingswood, os trabalhistas venceram por 2.501 votos a mais. A diferença foi ainda mais gritante em Wellingborough, onde a vitória foi por 13.844 votos contra 7.408. Com isso, arremataram dois novos assentos no Parlamento.
A derrota se torna ainda mais evidente quando os números são comparados aos da última ida às urnas, quando os conservadores ganharam por mais de 18 mil votos na cidade de Wellingborough, no distrito de Northamptonshire. O local era considerado, até então, um reduto do partido governista.
Premiê na berlinda
São más notícias para Sunak, que, segundo pesquisas de intenção de voto para as eleições gerais previstas para o segundo semestre deste ano, deve perder o posto. Levantamentos mostram uma disparada dos trabalhistas, com 45% dos votos, contra 24% para os conservadores, de acordo com o portal de notícias Politico.
No último ano, o premiê tentou se reinventar para atrair apoio, e passou de um reformador ousado para um tecnocrata estável. No momento, Sunak afirma que só precisa de mais tempo no poder “para seguir o plano” delineado por seu governo, que estaria supostamente funcionando. Mas a economia parece contar outra história: dados divulgados nesta quinta-feira, 15, indicam que o Reino Unido entrou em recessão a partir do segundo semestre de 2023, com Produto Interno Bruto (PIB) contraindo 0,3% nos três meses até dezembro. As taxas superaram as previsões dos economistas.
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Partido Trabalhista ‘de volta’
Foi a “pior derrota eleitoral de todos os tempos” de um partido do governo, disse o especialista em pesquisas John Curtice em entrevista à agência de notícias Reuters. Segundo ele, Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, está “a caminho de ser nosso próximo primeiro-ministro”. Em comunicado, Starmer criticou os rivais e celebrou o êxito histórico.
“Ao vencer nestes redutos conservadores, podemos dizer com confiança que o Partido Trabalhista está de volta ao serviço dos trabalhadores e trabalharemos incansavelmente para os ajudar”, disse ele. “Os conservadores falharam. A recessão de Rishi prova isso. É por isso que vimos tantos ex-eleitores conservadores mudando [de voto] para este novo Partido Trabalhista.”
O tímido direitista Partido Reformista, antigo Partido Brexit, também ganhou espaço nos resultados desta sexta-feira, com 3.919 votos em Wellingborough. Nas pesquisas para as eleições gerais, a legenda aparece com 11% das intenções de voto. Esse avanço, mesmo que ainda tímido, pode ser mais uma fonte de dor de cabeça para Sunak, uma vez que os conservadores podem ter que disputar votos com mais uma sigla.
Possibilidades para Sunak
É cedo para declarar a derrota total de Sunak, mas, em meio à insatisfação dos britânicos com a economia, a sobrecarga do serviço de saúde estatal e greves de trabalhadores de diversos setores, o primeiro-ministro, no cargo há pouco mais de um ano, precisará de uma espécie de milagre político para impedir a vitória eminente do Partido Trabalhista.
É possível que, para isso, o líder conservador precisará assumir um tom mais à direita para atrair o eleitorado — tendência que também será seguida pelos eurodeputados do Parlamento Europeu. O órgão deve registrar “um acentuado giro à direita” no pleito marcado para junho, segundo uma pesquisa Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR) divulgada no mês passado.