Embaixador de Israel diz que não participará de ato de Bolsonaro em SP
Comunicado da Embaixada israelense ocorre em meio a crise diplomática com governo Lula, usada por seus opositores como munição para críticas
A Embaixada de Israel no Brasil afirmou nesta quarta-feira, 21, que o embaixador, Daniel Zonshine, não comparecerá ao ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para o dia 25 de fevereiro, em São Paulo. Nenhum outro representante diplomático israelense tampouco comparecerá ao evento.
“A Embaixada de Israel no Brasil esclarece que o embaixador não participará dos eventos em São Paulo no dia 25/02, nem qualquer outro representante diplomático israelense. Respeitamos a liberdade de expressão no Brasil e preferimos ficar fora do debate político interno”, disse a embaixada.
A sugestão do convite a Zonshine havia partido de Fabio Wajngarten, ex-secretário-executivo do Ministério das Comunicações e ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social durante o governo Bolsonaro.
“Certamente será muito bem recebido e acolhido”, disse Wajngarten no X, antigo Twitter.
Vou sugerir ao @PastorMalafaia e ao Presidente @jairbolsonaro que convidem o Embaixador de Israel para nosso ato na Paulista no próximo dia 25/2 em São Paulo.
Certamente será muito bem recebido e acolhido.— Fabio Wajngarten (@fabiowoficial) February 18, 2024
Munição para críticas
O comunicado ocorre em meio a uma crise diplomática entre Israel e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), desencadeada por uma fala em que Lula comparou as ações militares israelenses contra os palestinos em Gaza ao Holocausto, que matou mais de 6 milhões de judeus durante o regime nazista de Adolf Hitler. “Sabe, o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse o presidente brasileiro.
Os opositores de Lula usaram a questão para atacar o governo, saindo em defesa de Israel e criticando o posicionamento do presidente.
+ A ira de líderes evangélicos com a fala de Lula sobre Israel
O Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil (CIMEB) divulgou na segunda-feira 19 nota em que repudia a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Israel, pelo conflito com o Hamas. Ele também foi alvo de repúdio formal das bancadas evangélicas da Câmara e do Senado. Para os líderes religiosos que assinam o documento da CIMEB — entre eles Silas Malafaia e Estevam Hernandes — a fala de Lula “envergonha o Brasil diante das nações do mundo”. Os congressistas, por sua vez, adotaram tom mais brando e classificaram as palavras como “mal colocadas” e “desequilibradas”, mas disseram “provocar conflito ideológico desnecessário”.
Já a nota dos congressistas afirma que “comparar os ataques de Israel ao Hamas com o nazismo que vitimou 6 milhões de judeus indefesos é provocar um conflito ideológico desnecessário; com a ressalva do respeito às pessoas que inocentemente morrem, Israel, ao contrário de Hitler, está exercendo o seu direito de sobreviver diante de um grupo com o objetivo de eliminar os judeus; outrossim, não é justo exigir que uma nação se mantenha passiva diante de um ataque covarde que estupra e mata, jovens, idosos e crianças das formas mais horríveis, e continua com a política de se esconder atrás de reféns (civis inocentes)”.
Crise diplomática
Em resposta à fala de Lula, na segunda-feira 19, o governo israelense declarou o presidente persona non grata e convocou o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, para uma reprimenda. O que costuma ser uma etapa do balé diplomático geralmente confinada às chancelarias virou espécie de espetáculo, já que o ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, escolheu o museu do Holocausto Yad Vashem como cenário incomum do encontro. Ele mostrou o nome de seus avós no livro das vítimas, a infindável compilação dos que morreram de tantas formas diferentes.
+ A primeira reunião do fórum de negócios do G20 sob presidência do Brasil
Depois disso, o governo Lula chamou Meyer de volta ao Brasil, como adiantou o Itamaraty a VEJA na segunda-feira. A desocupação do posto em Tel Aviv tem objetivo de fazer “consultas”, segundo um funcionário ligado à diplomacia brasileira disse à reportagem, mas sugere um agravamento do impasse diplomático entre Brasil e Israel, já recheado de tensão. O Itamaraty também anunciou na segunda-feira que convocou o embaixador israelense em Brasília, Daniel Zonshine, para comparecer a uma reunião com o chanceler Mauro Vieira.
Na terça-feira, Katz deu sinal de que a briga está longe do fim. Numa postagem no X, antigo Twitter, o chanceler israelense subiu o tom com Lula e exigiu uma retratação por sua fala, que qualificou como “promíscua, delirante”, além de “um cuspe no rosto dos judeus brasileiros”. O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, devolveu: disse que os comentários de Katz foram “inaceitáveis”, “mentirosos” e “vergonhosos para a história diplomática de Israel”.
+ O duro ataque do chanceler israelense a Lula: ‘Cuspiu no rosto dos judeus’
Ato bolsonarista
Bolsonaro convocou seus apoiadores para um ato “em defesa do Estado democrático de direito” em 25 de fevereiro, às 15h, na Avenida Paulista. Segundo ele, a manifestação será para se defender de “todas as acusações” que têm sofrido nos últimos meses.
Bolsonaro é alvo da operação Tempus Veritatis, no âmbito da qual a Polícia Federal cumpriu 33 mandados de busca e apreensão, 4 mandados de prisão preventiva e 48 medidas alternativas contra o ex-presidente e seus apoiadores por suposta tentativa de golpe de Estado.