Empresa de genro de Trump recebeu US$ 90 milhões de offshores
Revelação pode causar problemas para Jared Kushner e sua família se caso for configurado como conflito de interesse
Uma empresa do ramo imobiliário controlada pelo genro de Donald Trump, Jared Kushner, recebeu 90 milhões de dólares em fundos estrangeiros de offshores desde que ele se tornou conselheiro da Casa Branca, em janeiro de 2017, segundo o jornal The Guardian.
A fintech imobiliária Cadre tem sede em Nova York e foi fundada por Kushner, seu irmão Joshua e pelo empresário Ryan Williams. Segundo a reportagem, a maior parte do dinheiro foi enviada à companhia por um braço da financeira Goldman Sachs nas Ilhas Cayman.
Kushner, que é casado com a filha mais velha do presidente dos Estados Unidos, Ivanka Trump, manteve uma participação na Cadre depois de assumir seu cargo na Casa Branca. Segundo suas declarações à Receita Federal, a participação do assessor na empresa é avaliada em 50 milhões de dólares.
O genro de Trump renunciou ao seu cargo no conselho da fintech e passou a controlar apenas 25% das ações da empresa após se tornar conselheiro sênior do seu sogro, de acordo com seus advogados.
Ainda assim, a revelação de que a companhia possui financiamento estrangeiro anônimo pode causar problemas para Kushner e para a família Trump, caso for configurado como conflito de interesse. Especialistas em ética governamental criticaram a falta de transparência dos investimentos.
As fontes estrangeiras que investem na Cadre via Goldman Sachs não foram divulgadas pela empresa, que não é obrigada a divulgar tais informações. Duas fontes familiarizadas com a empresa, contudo, revelaram ao The Guardian que grande parte do dinheiro que saiu das Ilhas Cayman veio de um segundo paraíso fiscal não informado. Outra parte do financiamento veio da Arábia Saudita.
Esta não é a primeira situação controversa envolvendo Jared Kushner desde o início do mandato de Donald Trump. O assessor perdeu sua credencial de segurança para acessar documentos sigilosos do governo americano no início de 2018 por não ter concluído sua checagem de antecedentes criminais junto ao serviço de inteligência americano, o FBI.
Para conseguir sua credencial de volta, Kushner teve de se submeter a um interrogatório de sete horas, coordenado pela equipe do procurador especial Robert Mueller. Segundo fontes ouvidas pelo jornal americano, as perguntas giravam em torno de uma ampla gama de temas, incluindo a opinião de Kushner sobre a demissão de James Comey, ex-diretor do FBI, anunciada por Trump em maio de 2017.
Além do interrogatório, foi feito um resgate de todo o histórico financeiro de Kushner e dos contatos estrangeiros que ele possui. A investigação completa durou mais de um ano, motivo pelo qual o genro de Trump acabou perdendo temporariamente o acesso aos segredos mais importantes do país. A credencial foi restituída após três meses, em maio de 2018.