Assessores do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contrataram uma empresa de inteligência privada de Israel para espionar e disseminar “campanhas sujas” contra membros do governo Obama responsáveis pelo acordo nuclear com o Irã, revelou o Observer neste fim de semana.
Segundo documentos obtidos pelo jornal, a intenção era desacreditar dois negociadores-chaves da elaboração do acordo. A equipe de Trump teria contratado a empresa em maio do ano passado para “manchar” a imagem de Ben Rhodes, um dos principais conselheiros de segurança de Barack Obama, e de Colin Kahl, vice-assistente de Obama.
Fontes que conversaram com o jornal em condição de anonimato revelaram que a equipe de Trump entrou em contato com os investigadores dias depois de uma viagem do presidente a Tel Aviv – a primeira de seu governo. O presidente teria sugerido ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que o Irã jamais teria armas nucleares e que os iranianos sentiam que “podiam fazer o que quisessem” após a assinatura do acordo de 2015.
“A ideia era que pessoas agindo por Trump desacreditariam aqueles que eram cruciais na venda do acordo, tornando mais fácil sair dele”, afirmou ao jornal uma fonte familiarizada com o esquema.
Os investigadores da empresa contratada eram instruídos a investigar toda a vida pessoal e política de Rhodes e Kahl com o objetivo de encontrar qualquer relação entre eles e lobistas iranianos. Também deveriam checar se eles teriam sido beneficiados de alguma forma com o acordo. Supostamente, os investigadores teriam sido orientados a contatar jornalistas a favor do acordo que mantinham contato frequente com Rhodes e Kahl. O objetivo era descobrir se eles teriam quebrado protocolos repassando informações sensíveis de inteligência aos jornalistas.
No entanto, as fontes não revelaram ao jornal por quanto tempo este trabalho foi realizado pelos investigadores, que tipo de informações obtiveram e o que fizeram com elas. Também não se sabe se a campanha de descrédito visava outras pessoas envolvidas no acordo, como então secretário de Estado John Kerry, o principal signatário do acordo.
Nem Rhodes nem Kahl tinham conhecimento da campanha contra eles. “Eu não estava ciente, embora infelizmente não esteja surpreso. Eu diria que desenterrar a sujeira de alguém por desempenhar suas responsabilidades profissionais em seus cargos como funcionários da Casa Branca é algo assustadoramente autoritário de se fazer”, afirmou Ben Rhodes ao Observer. A Casa Branca não quis comentar o caso.
Esta não é a primeira acusação contra a equipe de Trump por vasculhar o passado de seus adversários políticos. O conselheiro especial, Robert Mueller, lidera uma investigação para descobrir se o time do presidente teria revirado a vida da então candidata Hillary Clinton com a intenção de revelar informações prejudiciais para a sua campanha presidencial de 2016.
A revelação acontece poucos dias antes do presidente dos Estados Unidos decidir se irá deixar o acordo nuclear com o Irã – que deve acontecer dia 12. Segundo o presidente, o acordo é “ridículo” e o “pior já assinado”. Em janeiro, Trump afirmou em discurso que Obama havia favorecido o regime iraniano um acordo desastroso.
No dia 30 de junho, o primeiro-ministro israelense conduziu uma apresentação em que denunciou o Irã de ter continuado seu programa nuclear militar, apesar do que foi acordado. Líderes europeus, no entanto, têm insistido para que os Estados Unidos não deixem o acordo. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, pediu para que o presidente americano permaneça no acordo enquanto não surja um melhor.