Ernesto Araújo diz que relações tanto com China quanto EUA vão bem
Em tom conciliador, chanceler negou atrito com gigante asiático e garantiu que relação com americanos não mudou sob governo do democrata Joe Biden
O ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse nesta terça-feira, 2, que não há “absolutamente nenhum problema com a China”, depois de ser acusado de prejudicar os interesses do Brasil nas negociações por vacinas contra o novo coronavírus. O chanceler também afirmou que a relação com os Estados Unidos, agora sob liderança do democrata Joe Biden, vai “extremamente bem.
Em entrevista coletiva, Ernesto deixou sua tradicional pauta conservadora no Itamaraty de lado para adotar um tom conciliador. Ele enfatizou que sua gestão do embate entre o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e a Embaixada da China não foi “prejudicial aos interesses nacionais”.
“Isso não gerou absolutamente nenhum problema com a China. Nossa relação é muito boa, muito produtiva, o comércio aumentou no ano passado, os investimentos continuam”, disse Araújo.
Em ataques no Twitter, Eduardo responsabilizou o governo da China pela disseminação do coronavírus. O embaixador chinês em Brasília, Yang Wanming, respondeu classificando a fala do parlamentar como “insulto maléfico” contra o povo chinês. Meses depois, o filho do presidente acusou a China de querer espionar outros países através da tecnologia 5G, gerando nova resposta de Yang.
Em ambas ocasiões, o Itamaraty repreendeu a embaixada da China no Brasil.
No fim de janeiro, o Ernesto perigava ser demitido por conta do imbróglio, segundo sugeriu o vice-presidente Hamilton Mourão. A falta de proximidade diplomática supostamente travou o envio da China de doses de vacina contra a Covid-19 e de insumos para produzir centenas de milhões de imunizantes no Brasil.
Além disso, a troca de governo no principal aliado do governo de Jair Bolsonaro, os Estados Unidos, desestabilizou o chanceler. Com Biden, que já anunciou a agenda ambiental como um dos pontos centrais de seu governo, ele enfrentaria escassez de pontos de diálogo.
Nos dois primeiros anos do mandato de Bolsonaro, o governo colocou todas as fichas na aliança com o então presidente americano, Donald Trump. Mesmo semanas após a vitória de Biden em novembro passado, o brasileiro manteve apoio às acusações infundadas do republicano de que os resultados eram fraudulentos, e foi um dos últimos líderes a cumprimentar o novo presidente (quase 40 dias atrasado).
Contudo, Ernesto garantiu que construiu uma “estrutura de confiança” com os americanos.
“Isso não foi interrompido com a mudança de governo nos Estados Unidos. Mas claro que uma relação profunda como a que estávamos construindo, num país democrático, não se transpõe às vezes automaticamente quando muda o governo, porque depende de um encaixe. Mas esse encaixe continua sendo totalmente possível”, disse.
“Nosso diálogo com a administração Biden começou extremamente bem. Todos os sinais são de que essa visão estratégica permanece e continuará rendendo esses resultados”, completou.
Apesar do tom moderado, Ernesto atacou iniciativas da sociedade civil que, segundo ele, atuam para “criar deliberadamente uma imagem distorcida do Brasil no exterior”, referindo-se a um relatório entregue a autoridades do governo Biden, elaborado por acadêmicos e ONGs, recomendando a suspensão de acordos entre os Estados Unidos e a administração Bolsonaro.